sábado, 20 de dezembro de 2014


UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
SOLENIDADE DE COLAÇÃO DE GRAU 2014/02
 
Exmº Sr. Governador do Estado (ou representante)
Exmº Sr. Prefeito Municipal (ou representante)
Magº. Reitor Prof. Dr. Antônio Rangel Júnior
Pró-Reitor de Ensino de Graduação, Prof. Dr. Eli Brandão, em nome de quem, cumprimento os demais Pró – Reitores
Caros Diretores de Centro, Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso
Caros Colegas, companheiros de caminhada
Queridos Formandos (as)
Senhores e Senhoras

Apraz-me citar como preâmbulo deste discurso o paraibano Hildeberto Barbosa Filho, que poetizou acerca da palavra, em seu livro “Quando nem morrer é remédio”: [...] “A palavra resgata paraísos/ Ponto final da oração do tédio/ É armadilha que trança o gesto/ Cálida, põe pelo avesso o universo e carrega montanhas/ É a colina ondulando no olhar/ É o olhar escavando o lado esquerdo do peito/ E o céu da boca perfumado” [...]
É pertinente, então, que seja a palavra o símbolo maior de que me valho, para externar toda a minha emoção, eivada do mais intenso reconhecimento para agradecer: Agradecer ao Deus da vida, por me premiar com este momento! Agradecer ao Magnífico Reitor Rangel Júnior e aos membros do CONSUNI/UEPB pela honraria que me concedem de compartilhar desta solenidade como Paraninfa Geral. Imperioso, pois, que retextualize aqui o início da mensagem do Poeta/Reitor, ao comunicar-me essa escolha, que segundo ele, “Mais que merecimento/ Mais que uma deferência/ Mais que homenagem, a UEPB reconhece e reverencia esta cidadã, exemplo de educadora, por sua história de vida e trabalho na nossa Universidade”, o que não posso negar, muito me lisonjeou.
Isto me reporta a cenas que me fazem reviver a comunhão que me enlaça a esta Instituição e me permite seguir as pegadas de Cecília Meireles: Os dias são feitos de pequenos desejos, vagarosas saudades e silenciosas lembranças. Na UEPB, a catedral dos meus sonhos foi erguida e se tornou realidade. “Foi nas pontas de suas tranças, onde amarrei minha ilusão”. Esta Universidade representa para mim a metáfora, cujo princípio fundante se traduz em isotopias que preenchem todo o meu ser e se inscrevem em minha alma,     impregnando-se de tal forma, que difícil seria desvencilhar-me delas! Razão por que nos irmanamos a esse sentimento de pertença, como algo que nos une irremediavelmente.
Relembro, assim, meu ingresso nesta Instituição, como professora substituta, quando ainda Universidade Regional do Nordeste. Acompanhei “paripassum” as crises e as lutas pela sua sobrevivência. Mas, felizmente, o casulo dos tempos difíceis a transformou em crisálida de nova vida. Posso, neste sentido, registrar, prazerosamente, que após ser admitida por Concurso Público, na então Universidade Estadual da Paraíba, compartilhei com companheiros de caminhada “das nuvens que no chão não pousam”, dos embates político, histórico e social que redundaram na sua ascendência e no seu crescimento vertiginoso! Após sua estadualização, veio o reconhecimento e a sua autonomia, culminando com a ampliação de Cursos e a criação de novos câmpus.
Entretanto, é importante ressaltar que por mais transversos e esguios que sejam nossos caminhos, nada acontece por acaso... O instante faz parte da condição humana! E em alguns casos, nós o fazemos acontecer! Em razão disto, é no instante em que se oculta a complexidade das dores ou a exuberância das alegrias, protegidas pela máscara do existir. E assim, se efetivam as vitórias, porque existem soldados que, incansavelmente, lutam nas batalhas! Como competidores que permanecem firmes em suas maratonas, estes não abandonam as pistas, jamais, por maiores que sejam os obstáculos!
Neste contexto, foram muitos os atores sociais da UEPB que não fizeram de suas janelas um único foco, cujo olhar limitado os impossibilitaria de ver outras paisagens! Buscaram outras janelas para contemplar novos horizontes.   Miraram-se no espelho de José Américo de Almeida e em seu reflexo ponderaram que “Ver bem não é ver tudo; é ver o que os outros não veem”.  Transformaram pedras em montanhas, construíram dos escombros de suas dificuldades castelos e fizeram dos desertos secos desafios! Eis, pois, nossa Universidade, digna do Pódio, uma vez que criou, com suas incertezas, uma escada para alcançá-lo!

Acredito que nada nem ninguém poderão detê-la! A UEPB, como nos ensina Clarice Lispector, “não terá medo nem de chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias”, tendo em vista que “o vazio tem o valor e a semelhança do pleno”. Certamente, os fundamentos sobre os quais foram construídos os pilares que lhe dão sustentáculo jamais ruirão, porque calcados em ideais pétreos e firmes, são bases sólidas que se tornam indestrutíveis! Tenhamos a convicção do escritor Robson Pinheiro: “As águas que descem em um rio caudaloso podem causar certos estragos, ao longo do percurso ou ao redor das margens. Contudo, se forem devidamente canalizadas ou reprezadas, servirão de impulso ao progresso na geração de energia e trabalho”.

Estou convicta de que os protagonistas da gestão atual são timoneiros que não deixarão águas turbulentas ensejarem outras margens. Construirão pontes que ultrapassarão as fronteiras do tempo! A UEPB, hoje, é uma pluralidade qualitativa, em que o múltiplo se diversifica. É a “invenção do possível”. Como numa ciranda, estaremos todos de mãos dadas para dançar e cantar a melodia que for entoada! Desta forma, firmados na premissa do escritor Prof. Francisco Pereira, em sua obra “A palavra na construção do mundo”, acreditamos que “Nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco”.

Dirijo-me agora aos formandos/as! Revivo o meu momento como graduada e toda a minha ascendência acadêmica. E é balizada em minha experiência, que ouso dizer-lhes, a exemplo de Guimarães Rosa: “Viver é um rasgar-se e remendar-se”. É despedaçar sonhos e cobiças. É essa separação do que somos para abraçar aquilo que poderemos ser.
Vocês concluem uma etapa de vida! Talvez muitos de vocês ou seus familiares abdicaram de algo para a construção desse castelo, alicerçado pela persistência e pelo compromisso! Cada um aqui com sua história! Como enfatiza Augusto Cury, “ninguém é digno da sabedoria se não usou suas lágrimas para cultivá-la”.
Aproveitem esse saber acumulado ao longo desses anos, sejam quais forem as suas áreas do conhecimento. Mas, sigam também os aconselhamentos de Clarice Lispector: “Mergulhem no que vocês não conhecem. Não se preocupem em entender; viver ultrapassa qualquer entendimento”. Por isto, lhes digo: Sonhem o impossível, pois se vocês alimentarem grandes sonhos, seus desafios produzirão oportunidades e seus medos produzirão coragem. Ignorem os espinhos, porque sobre eles as rosas desabrocham com perfume que inebria nossa alma! É preciso voar e voar alto dentro de si mesmo! Voem alto, portanto, como a catar estrelas no céu! Se tempestades vierem, toda esperança será âncora! Finquem-na no bojo do firmamento como quem planta sementes no chão! Mas, ao mesmo tempo, aprendam a sair de si mesmos e sigam em direção ao próximo. Sejam humildes, abnegados e se estruturem em suas vivências, da mesma forma em que sejam fortes, corajosos, audaciosos e ousados na consolidação de seus sonhos, tornando-se profissionais competentes! 

Permitam-me, ainda, confessar-lhes que a minha força, eu a construí nos embates da vida, decorrente das lutas, das pedras no caminho e do esforço empreendido na subida das ladeiras... Foram muitas, às vezes, que nuvens negras me apareceram como restos de noite... O vento para mim tornou-se forte, arfante, quase cansado em seu ímpeto! Mas, sabiamente, como nada é para sempre, “o próprio vento”, no dizer de José Américo, “para tornar-se amável, mudou de sexo. É brisa, o que há de mais carinhoso na natureza livre, desimpedida e viajada, a afagar- [me] como uma pluma macia e delicada”. Eis-me, então, aqui!
Saibam, também, que na vida, o que possuímos de verdade é aquilo que doamos! Aprendam a se doar livres como as andorinhas no céu! Sem grilhões, sem cordas, sem amarras, sem muletas!

Enfim, façam de suas vidas uma escalada sempre crescente, confiantes de que Deus está em cada esquina, em cada situação, em cada gesto. Procurem, pois, decifrar a mensagem que Ele envia para cada um de nós.
Parabéns a todos! Sejam felizes e continuem tocando a melodia do amor na harpa do coração. Obrigada e um beijo maternal para cada um.

Maria Divanira de Lima Arcoverde
Campina Grande, 16 de dezembro de 2014