sábado, 8 de maio de 2010

Os espelhos da alma

A nossa alma é um mosaico de espelhos que refletem os nossos sentimentos e que variam conforme as nossas circunstâncias ou contextos. As alegrias, as solidões, as emoções, as desilusões, as decepções, as esperanças, as expectativas, as saudades e tantos outros sentimentos formam esse mosaico que se constrói no desenrolar da vida.

Em determinados dias, essa urdidura mosaica se acentua e algumas delas se sobressaem pela importância que se constituem no desenvolvimento de nossas subjetividades. E neste contexto de subjetividades, "casa de todas as riquezas humanas", o nosso sentir se faz mais forte e se acentua com mais vigor, porque algumas lembranças persistem em se fazer presentes, por razões que lhes são pertinentes.


Nesse sentido, o nosso coração parece explodir pela intensidade da nossa vulnerabilidade de ser humano. Nossos olhos revelam, então, por meio das lágrimas, as dores de uma saudade infinda, porque representa a ternura, a bondade, a docilidade, a simplicidade e o sempre querer bem de uma Mãe que se fez grande pelas suas ações, pelo seu modo de viver... Mas, essas lágrimas são, muitas vezes, revestidas por um silêncio que nos envolve e ecoa nos espaços que nos circundam, pois como disse Clarice Lispector: "É no meu silêncio que escapam de mim todos os meus gritos."

É, então, nessa condição silenciosa que me aproximo de Deus e elevo ao Alto preces carregadas de amor para receber o conforto necessário e o aconchego maior que possam preencher este vazio de uma ausência tão sentida, na certeza de que "Deus chora nos lábios de quem reza".

Dessa forma, acalento as minhas dores e imagino o calor do abraço materno e a doçura de um beijo que se materializa na realização dos meus desejos.
Para você, querida Mãe, todas estas rosas...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Em dia com a língua

Josué Machado faz o seguinte comentário:
Ao norte e no norte
A moça do tempo anunciou na emissora de TV: "Ao norte do Brasil, haverá chuva intensa e muito calor no período". A região norte do Brasil é composta pelos estados de Roraima, Amapá, Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Tocantins.
Só que, ao apontar a vasta região amazônica, ela se enganou de preposição. Não é "ao norte" e, sim, "no norte" do país que desabaria a procela. Sao diferentes, não só formalmente. "No norte" é parte integrante da própria região. "Ao norte" é além da região norte, o que há fora dela. O estado do Amazonas está na região norte, pertence a ela. Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa estão ao norte do Brasil, fora do Brasil.
A escolha da preposição é fundamental para definir com clareza o que se quer expressar, afirma Josué Machado. (...)
Fonte: Revista Língua Portuguesa, abril/2010

domingo, 2 de maio de 2010

O apagamento da memória

Gratifica-me muito saber que os estudos e pesquisas atuais estão priorizando as questões de memória, biografias, histórias de vida, relatos, depoimentos etc. Cultuar a memória de alguém é reconhecer os seus feitos e a sua colaboração à sociedade onde está ou esteve inserido. No setor educacional, afirma Romanowski em "Formação e profissionalização docente" (2007) que "a memória pode conter as transações passadas com a instituição escolar, pois, ao longo de sua vida, o sujeito constrói o seu saber ativamente, num processo que se faz por avanços e recuos construindo relações específicas com o saber e o conhecimento que acabam por se encontrar no cerne da identidade pessoal."

Infelizmente, alguns personagens da história da Educação brasileira são conhecidos apenas pelo nome ou por poucas leituras, muitas vezes, reflexo das leituras de outras pessoas. Nesse sentido, chamou-me a atenção o artigo que li de José Pacheco (Revista Educação, abril, 2010), intitulado "A segunda morte de Anísio". O autor revela que foi ao sertão baiano, à procura do que resta do insigne brasileiro Anísio Teixeira, principalmente nas Escolas de Caetité. Ao visitar a Secretaria de Educação, pergunta "qual o legado de Anísio, que se faz presente nas práticas escolares?" A resposta é "um embaraçado silêncio."

Embora tenha sido acolhido na casa que foi de Anísio, ter visto livros e objetos que foram usados e tocados "por aquele gênio" e ter-se detido diante de uma fotografia onde o educador estava cercado de crianças, o autor constata que nas escolas os projetos servem de "ornamentos" com citações do mestre, mas não são cultivados nas salas de aula. Percebe-se, então que na formação, os professores adquiriram vagos contributos de ilutres pedagogos estrangeiros...

Para minha perplexidade, o autor afirma que procurou na cidade uma lápide ou um busto que evocasse Anísio, mas não encontrou. A única estátua de Caetité é de alguém que está vivo e "cujos méritos" o autor desconhece. Continua a sua narrativa de forma muito explícita e seus relatos são de causar tristeza... Em seu dizer, "mistério e silêncio encobriram as circunstâncias da morte de Anísio. Consta que foi encontrado em posição fetal, entre as molas de um fosso de elevador, sem vestígios de com elas ter colidido, numa presumível queda..." Mas, ressalta o autor que "estávamos em 1971 e questionar esses tenebrosos tempos ainda é tabu (...). E a luz que Anísio lançou sobre a educação do Brasil também se extinguiu com ele". Pacheco conclui, lamentando que o tempo tenha se aliado à incúria dos homens para apagá-lo da memória dos educadores brasileiros. Para ele, "memória não é feita de inócuas homenagens, mas no fazer jus à sua vida de incansável lutador por uma educação que não aquela que, decorridos quase quarenta anos sobre a sua morte, infelizmente, ainda temos."

Que estas considerações sirvam de reflexão para nós educadores, principalmente, os que militam em cursos de Formação de Professores. Vamos estudar e pesquisar mais sobre a história da educação brasileira e, particularmente, sobre os educadores que contribuiram e colaboram com o desenvolvimento da educação de nosso estado, a nossa pequena e heróica Paraíba. Não deixemos que o processo de apagamento da memória seja cultivado. Preservemos a nossa história.