sábado, 12 de abril de 2008

Certos Movimentos do Coração

Certos Movimentos do Coração é mais um livro do poeta Ruddy, que desnuda a sua alma numa cadência de sentimentos, sem máscara, hipocrisia e/ou camuflagens, buscando o que tem de mais valioso - autenticidade.
Ruddy coaduna Amor e Arte "como irmãos inseparáveis e amantes em incesto invulgar invadindo-lhe o SER". E nesse colóquio Arte x Amor, o encontro foi possível, a despeito de todo e qualquer preconceito social e obstáculos levantados por pseudos-moralistas. O encontro definitivo acontece e ele já não se fecha em si mesmo. Pelo contrário, abre o seu coração e canta: "joguei no mar/a chave do meu coração. /Agora vai ficar legal./ Deixei a porta aberta/para quem quiser entrar." E vai mais além, no seu grito de criticidade e de compromisso com o verdadeiro SENTIR e VIVER no poema Amor Louco - "Chamem a ambulância/ o prefeito/ a polícia/ Chamem a TV/ o cinema/ o rádio./ Quero que todos saibam que tenho um amor/ maior que a vida/ à margem de gritos e escarros/ além de sussurros clandestinos/ acima de uivos e rumores/ um amor incandescente de infinito". E o poema pára, enquanto a infinitude desse amor prossegue na beleza de seu último verso, numa estrutura que estabelece, insofismavelmente, o ritmo circular, infinito de vida cósmica, sem princípio, nem fim. Mas, nessa junção Arte e Amor, a dor se faz presente e em "delírio" e comunhão - Arte x amor x dor atingem a aspiração suprema e íntima do seu ser e fazem-no dizer: "Senti/ a dor e o amor/ como os pombos/ pousando nos beirais/ aos pares/ sofri a miséria do mundo/ e fui feliz". E para o poeta, seguir a sua trajetória interior, através de depoimentos dos que o amaram, o deixaram de amar ou o amarão, é uma fascinante aventura em busca da alma encantada.
Ruddy faz "um delírio debochado da vida" como bem disse o poeta Francisco Maciel, sem circunlóquios e/ ou apelações, enriquecido de sensibilidade e senso crítico. O prazer pelo prazer, o erótico são presenças constantes nos seus versos carregados de um linguajar despojado de falsos padrões, deixando aqui ou alhures a marca personalizada de seu EU assumido e coerente.
Em "Certos movimventos do coração" como nos movimentos da alternância DIA x NOITE há um jogo temporal onde o HOJE e ONTEM e o AMANHÃ provocam uma interdependência de fatos, todos ligados pelos mesmos sentimentos: o amor à vida, o viver intensamente, como se houvesse a consciência de que os homens no incompreensível labirinto da vida, caminhassem sem jamais se encontrarem,condenados a uma mórbida solidão. Por isso Ruddy confessa em seus versos: "Tenho medo que o tempo/ não me deixe chegar até onde minha alma almeja". É tentando temporizar inexoravelmente flui, faz da noite sua aliada nesse desejo de temporização, proclamado: "Minhas noites/possuem a magia/ do transporte além de mim/ me envolve em fantasia/ e crio novos dias". Nessa cumplicidade com a noite ele prossegue, pois "as palavras ditas na noite/ têm o gosto doce do sexo/ e caem como véus sem verdade".
Eis o que reflete o autor de "Certos Movimentos do Coração" que terá, certamente, leitores co-partícipes desse ato criador e juntos percorrerão veredas ao embalar dos versos translúcidos do Ruddy, PINHO aromático que com fragância e performance enobrece os Congressos/88.

Campina Grande, 1988.

"Eu, poeta em prosa e verso de Amaury Vasconcelos

"Quem sou, de onde vim e para onde vou"

são indagações de um narrador personagem esclarecidos no livro "Eu, poeta em prosa e verso".

De temática versátil e tendo a intertextualidade como presença forte nos seus poemas, Amaury Vasconcelos é o viandante inquieto que aporta em espaços fantásticos e faz com ques seus leitores se transportem a mundo imaginários, através dos personagens mitológicos que marcam suas narrativas poéticas. Estas, por sua vez, carregadas de isotopias, fazem o encadeamento lógico indispensável para o surgimento do "devir" dos vários sentidos do texto, através das coerências semânticas ensejados por seus versos.
O autor, "samaritano do bem querer" faz do AMOR a temática redundante em vários dos seus poemas, sem contudo, deixar de encaminhá-la para o interior de uma redundância supercodificada, completando, dessa forma, o desvio da norma. Mesmo assim, driblando a metáfora, o poeta é o apaixonado perene que decanta a eterna namorada, provando que "a união que emana do somatório deste amor eterno" em "tessitura se amalgama" e "não se destrói porque foi feito/ só de carinhos, renúncia, ternura".
Em "Eu, Poeta em Prosa e Verso", os poemas eróticos (vários) são canções que embalam ao som de "violinos de amor e arpejos". E a própria "volúpia" transmitindo "o desejo incontido/ a vontade do orgasmo".
As comparações da mulher com a natureza, entre prosopopéias e aliterações, entremeadas de metáforas (peculiaridade indispensável no grau de literiaridade textual) fazem do "Eu, Poeta em Prosa e Verso" um livro que chega ao extremo da criação. E o poeta questionando as idiossincrasias da própria natureza para no seu próprio criar, responder-se a si mesmo.
Entretanto, eis a grande surpresa! Tendo em vista os laços estreitos que o poeta estabelece entre a retórica e a poética, o autor nos surpreende com versos de linguagem popular, a exemplo de "O casamento" e o "O beijo da caboca" (sic). É o autor se desembaraçando do seu "EU" intelectual, invertendo as perspectivas e introduzindo no seu discurso o que há de mais puro e ingênuo de seu "EU" lírico.
Ler Amaury Vasconcelos, "viajante feliz e permanente" do universo plurissignificativo da linguagem literária, é, portanto, mergulhar nos meandros infindáveis do discurso poético.

Campina Grande, 22.05.93.

Itacoatiara - uma revista de Cultura

Itacoatiara é uma revista da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba. Idealizada pela Secretaria Adjunta de Cultura, em convênio com a Associação Brasileira de Semiótica/Regional da Paraíba, ambas dirigidas pela Profª Elizabeth Marinheiro. Itacoatiara é "um espaço vivo no sentido de aglutinar o melhor e o mais representativo da criação artística e intelectual da nossa região", segundo seu próprio editorial, além de "instrumento eficaz de intercâmbio cultural com outros Estados e outras regiões do País".
Em sua primeira edição (ano I, nº 01, abril/maio/junho/1993), cujo título evoca as inscrições rupestres das Pedras do Ingá, Itacoatiara convida seus leitores a uma primeira leitura, através dos sentidos múltiplos sugeridos no texto iconográfico de sua capa. Signos questionados e questionadores...
A revista firma-se pela abertura " transdisciplinar" que sua linha editorial adota. A competência de seus articulistas, ensaistas, contistas e poetas são marcos que transcendem os contextos, vencendo o tempo e o espaço. Isto prova que é universal, entre os homens, a necessidade e a habilidade de criar a linguagem.
Itacoatiara possibilita, ainda, por meio do ecletismo de suas produções, (filosofia, linguagem, literatura, cinema, comunicação de massa, direito, fotografia, contos e poemas) a redimensão dos sentidos do texto, que não estão, necessariamente, ali, mas sim, "nas relações de força que o lugar social dos interlocutores propicia", constituindo, enfim, o processo de significação.
E na mesclagem textual oportunizada pela revista, o leitor interage com outros sujeitos, ultrapassando a "objetividade" dos escritos, extrapolando a mediação natural existente entre leitor e texto. Em verdadeiro "jogo interacional" ensejado por esse periódico, o leitor, em ato de recriação, tece o seu próprio texto na perspectiva, porém, de que não existe "autor onipotente" nem tampouco "leitor onisciente".
Itacoatiara é, portanto, a intertextualidade originária e a polissemia constante, condição sine qua non para a leitura proficiente.

Campina Grande, 17.05.93

A FACMA dança na rua!

Como a entidade cultural mais antiga de Campina Grande, com novo Conselho Diretor, estruturada em NÚCLEOS, com sua sede própria (CASA LUCIO CUNHA LIMA), a FACMA marca mais um capítulo de sua história.
Orgulho-me de pertencer a esse grupo de trabalho que tece o ressurgir de doces auroras, com o objetivo maior de irmanar-se à comunidade campinense na caminhada progressiva de seu desenvolvimento cultural.
Em sua nova trajetória, essa entidade firma-se com os projetos e planos de ação de seus núcleos, consolidando a tessitura dos matizes operacionalizados pela Fundação. Alcançando grandes vôos, na convicção de que não temerão as alturas, nossos núcleos serão aves de condor, buscando sempre galgar novos horizontes. Como exemplo, o Núcleo de Patrimônio e Pesquisas levou a execução (em24/04/93) o Projeto "Memórias de Campina", apresentando "Os perfis da FACMA" visando à preservação, catalogação e divulgação dos marcos culturais da história campinense.
Hoje, o núcleo de Artes brinda-nos com uma programação distinta, criativa e agradável: "A FACMA DANÇA NA RUA", proporcionando descontração e lazer aos que aqui estão, bem como, uma homenagem afetiva às MÃES campinenses, saudadas, nesta ocasião pela primeira dama do município profª Ângela Araújo.
O evento terá a participação de Grupos do Folclore autêntico de Taperoá, através da tradição das Cambindas e o ritmo contagiante dos Filhos do Sol. Teremos ainda a perfeição de passos do Grupo ORIGENES dirigido pelo prof. Hipólito Lucena, além da participação dos poetas populares Santino Luís e Agamenon Santos. Solidariamente, estes Grupos colaboram com com esta Casa, em um intercâmbio cultural e fraterno, mostrando que cultura é isto. É o dar-se as mãos; é o pé no chão; é a busca do que se foi, justificando a assertiva de Elizabeth Marinheiro: "Somos o reencontro de nossas origens"; o que não nos impede de afirmar: somos, também, a busca do que será.
Sejam bem-vindos todos. Sejam bem-vindos os que nos deleitam com sua arte. Sejam bem-vindos os que atenderam ao chamamaento da FACMA para dançar conosco. A FACMA os recebe com um amplexo tão gigantesco quanto sincero. Sintam-se em casa, pois a FACMA é nossa.

Campina Grande, 19.05.93

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Lendo Álvares Fernandes

Comentar poemas é uma tarefa que me apraz. É o exercício lúdico/crítico somado a mais uma experiência, oportunizada por pessoas que confiam na minha visão de amante da literatura. Dentre essas pessoas, está Álvaro Fernandes e ler seus poemas é abrir as cortinas de um palco onde autor/ator se confundem, se imbricam, se entrelaçam fazendo " do palco a fonte de energia mais forte e mais pura". Contudo, para o ator/poeta que "imagina o sonho de paz entre os homens" o palco não é apenas seu campo de luta. É na poesia que ele estende todo seu potencial criador, num orgasmo de dor e prazer, transmutado em versos impregnados de sensibilidade poética.
E essa sensibilidade, em impulso criativo, faz com que o poeta pense oniricamente.

"Ontem eu sonhei/ que os homens/ violentaram o branco/ que era a paz/ castraram o verde/ que era a natureza..."

Mas num despertar cruel, ele conclui:
"Assim mataram o sonho/ e devastaram a vida/ Quando o amanhã nasceu/ o
mundo estava despido/ Era João/ sem teto/ sem rima/ sem pão."

A realidade social é introduzida por uma metáfora que desencadeia em reprospectativa nos lexemas anteriores e o processo é referendado pelas relações simbólicas codificadas. Como um marco divisor de águas:
"Os rios que cruzam nossas vidas/ são as águas podres/ das sujeiras dos ricos"

Em "Homem Deserto" o poeta soma os seus silêncios e "solitário, sofrido, caminhando/ querendo gritar o seu grito..." em defesa dos oprimidos, reune em processo intensificador, toda sua preocupação com o social, demonstrando a coragem de quem avança na direção da verdade. Poesia é também denúncia. Os poetas não vivem isolados. Os gestos dos poetas não se divorciam do todo. E na ciranda do cotidiano, vem à tona o problema do menor abandonado, do "menino de rua" que
"só tem ocaso/ se por acaso/ a noite chegar/ chegar sem pão/ de pé no chão..."

A poesia propicia o refletir lírico e sentimental. É nesse refletir que faz brotar no poema "Ansiedade" o tédio que a vida lhe impõe, verdade individual marcada humanamente através da poesia:
"Me aborreço e saio/ A noite está bêbada/ cheia de vômitos, fria",
o que é ratificado nos versos do poema "Caos":
"Um tédio/ invade meu quarto/ no escuro/acendo um cigarro/ a cidade continua dormindo/ tudo é simplismente caos..."

Acompanhando esse tédio, vem o receio de não viver o suficiente, divorciado, porém, do íntimo e intransferível gesto de libertação:
"Não sinto medo/ de rever o amanhã/ Mas,sinto receio/ de não ter vivido tudo de
ontem."

E é esse receio que faz brotar no poeta a extraordinária força poética e humana, em defesa da essencialidade do ser, em contrapartida com o tempo que inexoravelmente passa, quando ele diz:

"Se o relógio/ o calendário/ e o tempo correm/ tenho certeza que vivo/
intensamente cada instante."


A poesia ajuda o homem a se encontrar consigo mesmo em comunhão interior. Álvaro Fernandes dá um mergulho no seu eu mais profundo e desnuda-se nos seus poemas, afirmando: "
"Não tenho caminhos para seguir/ todos eles terminam em mim/ nada de
concreto sei/ Meus abismos são secretos demais/ Neles existo como
sentença".


E com características intrínsecas de sua lírica, o poeta afirma:
"Vou recolher minha alma/ para se despedir da tarde/ e juntos
navegarmos noite a dentro/ mandar as mágoas e as dores/ para o fundo do mar/
depois voar o mais alto/ que puder/ e me misturar com o infinito."


Desta forma, o poeta se elege livremente, isto é, decide ele mesmo sua situação no mundo. E é no mergulhar do seu ser que faz ressurgir o poeta/homem que aprisionado pela solidão, na certeza da efemeridade da vida, suplica seu desejo:
"Rasga minhas roupas/ quero te possuir antes que o dia rompa/ e tu
descubras que tudo foi ontem/ e hoje só restou/ o orgasmo de tudo."


É nessa imersão que ressurge o homem que ama e que sonha, mas que inexplicavelmente vê suas aspirações e desejos nascerem irrealizáveis. Por isso, ele diz:
"Mataram minhas emoções/ assassinaram meus sonhos/ meu âmago acumulou/ todas
as dores do mundo."

Uma ponta de amargura se instaura e o poeta desabafa:
"Tenho sede/ dão-me amargas palavras para beber/ Tenho fome/ dão-me a frieza para saciá-la/ Sinto-me só/ não sou mais multidão"

É nesse ritmo que se esboçam as coordenadas psicológicas e o poeta se sente
"entre a fumaça psíquica/ da neutra sensibilidade humana."

sentindo
"o promíscuo orgasmo imaturo do existir/ numa eterna busca/ de equação
complexa..."

E o poeta grita em êxtase:
"gritos rasgados da alma/ despreendendo as gotas angustiantes do
existir."

Assim é Álvaro Fernandes, poeta da vida e do amor que faz da fala poética "morte e ressurreição da linguagem"; que faz da poesia, teatro e do teatro, poesia.

Nosso jardim

Somos eternas saudades
Em cada pétala
Uma

LÁGRIMA

Sou eu, és tu
São outras mães...
Eles são lírios de paz
Inebriando odores
Aqui, ali, alhures

Com DEUS!

Campina Grande, 24.09.90

Petição

Sorrir para não chorar
Cantar pra não lembrar
Escrever para não dizer
A angústia que invade o meu ser...


E ao jogar no papel as desventuras
Em versos carregado de amargura
A perda que tive nesta vida dura
Do filho querido que se jogou em aventura


Choro e soluço carregando o pranto
Pedindo a Maria que me envolva em seu manto
Que transforme meu lamento em canto


De louvores a Seu Filho que é santo
Para libertar-me do tormento
Que comprime minha alma em sofrimento...

Campina Grande, 25.02.86

Salas de leitura

Segundo Vera Teixeira de Aguiar, a leitura é uma atividade compreensiva através da qual chega-se às idéias do autor, à descoberta dos pormenores, às inferências, à comparação com as idéias de outros autores e com as nossas próprias idéias, às conclusões.
De acordo com experiências comprovadas, nossos alunos já não saem das escolas com essa preparação, isto é, procurando fazer da leitura fonte de crescimento e desenvolvimento do senso crítico. Em boa hora, o MEC por meio da FAE, cria o projeto "Sala de leitura" para as escolas de 1º grau, verificando que só por meio da democratização da leitura, poderemos transformar a escola, reclamando dos educadores uma nova maneira de formar nos alunos à fruição crítica dos textos. E pensar a democratização da leitura é, sobretudo, pensar a democratização política e as transformações das suas estruturas sociais e econômicas.
Sabemos das dificuldades para uma mudança imediata das condições de realização da leitura escolar, principalmente, "em função (ou distorção forçada) dos seus objetivos primeiros e das agruras por que passa a educação brasileira". Mesmo assim, abraçamos corajosamente o desafio da implantação do projeto, cujas características precípuas são:

  • Informalidade de ambiente: não sendo exigida uma sala específica, mas ambientees de descontração, tais como: galerias, pátios e a própria sala de aula;
  • Informalidade de tratamento técnico do acervo: a acomodação dos livros devem permitir a livre manipulação pelo aluno , incentivando-se o empréstimo domiciliar e a freqüência de utilização;
  • Espontaneidade de leitura: o aluno deve se sentir livre para a busca da leitura independente de controle e ligação com tarefas escolares, sendo indispensável, entretanto, o acompanhamento da leitura pelo professor, para que o aluno possa explorar todo o seu potencial crítico e criativo.

Sob a nossa jurisdição estão 36 municípios e foram contemplados com salas de leitura 80 escolas. Cada escola recebeu um acervo de 70 títulos para a 2ª fase e 103 títulos para a 1ª fase, perfazendo um total de um mil e poucos volumes, já que para cada título vem mais de um volume.
Nosso objetivo é criar condições que propiciem no aluno o prazer pela leitura, considerando a fonte de informação e prazer. A esse objetivo somamos o desejo de formular um novo conceito de leitura, pois como diz Paulo Freire "a leitura do mundo precede a leitura da palavra". Ler o mundo é assumir-se como sujeito da história. É ter consciência dos processos que interferem na sua existência como ser social e político.
É inegável que a crise de leitura existe e tanto na escola como fora dela essa crise toma proporções inestimáveis. Então, qual seria o papel da sala de leitura na escola na superação da crise da leitura, sabendo-se que a escola até então, tem interpretado esta tarefa de modo mecânico e estático? Claro que não seria a repetição da tradicional biblioteca. Sendo assim, teríamos bibliotecas. Sendo assim, teríamos apenas uma permuta de nomes sem a finalidade educativa a que se propõe: formar o leitor.
A nosso ver, não se aprende a ler de forma compulsória na escola. É algo que faz parte dos padrões culturais de uma comunidade. Destarte, cabe à escola por meio da sala de leitura incentivar seus alunos para uma participação efetiva; para que se processe a motivação entendida como um despertar de uma orientação seletiva do comportamento: numa ação nunca dissociada dos movimentos que situam o cidadão como sujeito da história (leitor do mundo). Converter o livro e os demais instrumentos de documentação cultural em objetos familiares às gerações atuais, impulsionando-as para seu uso livre e inventivo. Este é um ponto de partida para gerar os leitores de amanhã.
Acreditamos na garra do verdadeiro educador que não deixará escapar esta oportunidade, fazendo desse projeto um instrumento de educação permanente e de reflexão social; o fio condutor para a consecução de uma sociedade transformadora.

Texto publicado no Diário da Borborema. Campina Grande, outubro de 1986.

Tarefa difícil!

Escrever é tarefa difícil que requer muita acuidade e perspicácia de quem a faz. O momento da produção textual é aquele em que nos relacionamos com a palavra, fazendo dela arma poderosa para a enunciação de nossas idéias. Não concatenando-se adequadamente, corremos o risco de não sermos compreendidos.
Talvez seja esta a maior dificuldade, que sofre a imprempressão periódica de textos ou boletins informativos, sem interrupções ou paradas.
isso nos faz refletir, sobre uma de nossas funções como professores de Língua Portuguesa, isto é, ensinar o uso de uma língua/linguagem. Se nós, desde já, não tomarmos consciência da necessidade de colocarmos nossos alunos para escrever, estaremos formando "múmias", incapazes de usar a linguagem como instrumento de interação social.
Vale a pena repensar neste problema crucial, não só na nossa realidade, mas generalizado nos mais diversos segmentos da nossa sociedade.
Para que aprendamos a escrever é preciso fazer uso da escrita como uma prática social, como uma prática do cotidiano, nas mais diversas situações, com finalidades distintas e, assim, vivenciar com nossos alunos. Se assim o fizermos teremos a oportunidade de encontrarmos bons escritores saídos das salas de aulas de nossos colégios. O que está faltando é incentivo, provocação de situações sociais para que esta juventude aproveite seu potencial criativo e inovador, nas coisas salutares e aprasíveis que a vida nos proporciona.

Campina Grande, 13.03.86

Ao prof. Aroldo Pimentel e Maria das Neves Souza Pimentel

Caros Aroldo e Nevinha,

As colegas confiaram-me a missão de em nome de todas fazer as congratulações ao casal amigo, nesta data significativa.
Quisera ser poeta nesta hora ou ter o dom de emitir palavras com sonoridade tal, que pudessem transmitir toda a nossa alegria de compartilhar com vocês, deste momento. Já que não tenho talentos para tanto, valho-me da fonte de conhecimentos que a Escola da vida me deu. E, desta aprendizagem do conviver, não poderia deixar de dizer a vocês, que a verdadeira união consiste na compreensão mútua, na aceitação recíproca dos defeitos, na valoração das qualidades e virtudes do ser amado.
Ser feliz, é fazer o outro feliz! É colocar um pouco de perfume em nossa casa e em nossa vida. Perfume com fragância de amor, para que ele mande em todas as coisas e em todas as decisões sobrepujando-se a todos os sentimentos, a fim de que ninguém possa sentir a ausência do outro, cante baixinho com o poeta Vinícius:

Eu sem você
Não tenho porque
Porque sem você
Não sei nem chorar
Sou chama sem luz
Jardim sem luar
Luar sem
amor
Amor sem se dar
Eu sem você
sou só desamor
Um barco sem
mar
Um campo sem flor
Tristeza que vai
Tristeza que vem
Sem você,
meu amor
Eu não sou ninguém.


Campina Grande, 20.03.86

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Chove!

Chove!

A gota d'água penetra no meu peito
E me angustia, e machuca e dói.
Choro!

A lágrima sentida do filho querido
Que na viagem sem retorno
Embarcou sem comprar passagem

A lágrima fertiliza a alma de quem sofre...
Lava o espírito
Liberta-o da dor.

Chorar, sofrer, sentir
A perda desse grande amor
Eis meu destino!

Campina Grande, 10.06.86

Amanhã será outro dia...

Pensei. O que escrever? Falar de amor? Poderei ser taxada de "romântica inveterada"!
Falar de atualidades, como o assunto do dia "A violência de Saddam/Satan"? Não sei!
Vou deixar-me enlevar na melodia entoada por Wilson Maux. que graça! Senti-me envolvida por uma melancolia... "Por que não continuar, Wilson?" Que bem me faz a música, o cantar dos pássaros, o bom papo, companhias e companheiros.
Que tanta tolice já escrevi. Não importa! Estou dando evasão aos pensamentos que me chegam e que exteriorizo através do texto.
Assim entendi o enunciado da tarefa. Estou bem! Sinto-me comolegial. Colega dos meus alunos.
Adolescente com sonhos mil. Como é bom viver o hoje, o agora.

Amanhã será outro dia...

Benditas palmeiras

Consultório médico. A espera chata para ser atendida... Aproveito o tempo para observar pessoas, ambientes, jardins... Olho atentamente para uma palmeira que majestosamente se alonga para o alto! Que bom seria, se as pessoas imitassem aquela palmeira... Caminhando para o alto, erguida, frondosa, galgando cumes, beijando céus!
Revejo a palmeira! Ao seu redor, brotos e mais brotos surgem de seu caule. São novas vidas, são frutos que também se multiplicarão no prosseguir da transformação da espécie. Mais uma vez, faço a analogia com pessoas que a exemplo da palmeira, fazem brotar de suas vidas, mudas de sonhos, de esperanças, de amor, de paixão, de otimismo.
Benditas palmeiras, que se abrem em leques, alardeando verdes, embelezando campos, iluminando parques... Verdadeiras palmeiras transbordando paz!

Campina Grande, 1990

Mensagem a D. Luís Fernandes

"É bom caminhar... caminhar na fé, na esperança e no amor..."
"Fé é um raio de luz em nossa trajetória peregrina. Esperança é vida na vida da gente. Amor é gosto bom de Paraíso nos lábios e no coração da gente".

Vinde caminheiro! Vinde Nobre Pastor! Nós vos recebemos de braços abertos, com aquele abraço fraternal e amigo, na certeza de que V. Exa. com a vossa capacidade de trabalho e comunicação ireis arrebanhar mais e mais ovelhas para o rebanho de CRISTO. Estamos confiantes que V. Exa. sereis a continuação dos trabalhos benéficos do nosso saudoso D. Manoel Pereira.
Os nossos corações rejubilam-se neste instante, em que damos-vos as nossas Boas-vindas, oferecendo nossa cooperação como Religiosas e Educadoras, na evangelização daqueles que andam sedentos da Palavra de Deus, cegos ou ofuscados pelas ofertas fáceis da vida material, mutildados pela vaidade e ambição do TER sem pensar no SER.
Confiamos em DEUS que haveremos de transpor barreiras por maiores que sejam, por instransponíveis que nos pareçam, nesta caminhada conjunta para que na FÉ vivamos, na ESPERANÇA nos alimentemos, no AMOR nos confortemos.

Respeitosamente
Irmãs das Filhas de Maria Imaculada Conceição
Ccorpo Docente e discente do Colégio Santa Bernadete
Campina Grande, 22.10.81

Presença de José Américo na literatura de Cordel

A literatura de Cordel tem se destacado pela multiplicidade de seus temas e estilo peculiar de seus autores. São composições poéticas que têm motivado vários estudos com as mais diversificadas abordagens.
A professora Neuma Fechine tem sido, na Paraíba, uma das mais entusiastas pesquisadoras nessa área, "dedicando a maior parte de sua vida" a esses estudos.
E foi justamente essa disposição que levou a escritora a verificar quais as relações entre José Américo e a literatura de Cordel e vice-versa.
Desta forma, a professora Neuma Fechine enobrece o acervo cultural paraibano com mais uma obra - "Presença de José Américo na literatura de Cordel". Além de mostrar o interesse de José Américo pela literatura popular, refletido, não apenas, em "A Bagaceira", como também em outras obras de sua autoria, a pesquisadora ressalta a presença de José Américo na produção de poetas populares.
Em trabalho exaustivo e dedicado, em um corpus constituído de oito mil folhetos, a pesquisadora vai além das expectativas, abordando dados de caráter biográfico e de caráter político, explorados pelos cordelistas. Cada citação (recorte-amostragens) é enriquecida de reflexões importantes, demonstrando o domínio intectual da autora, em relação à temática.
Vale a pena ler "Presença de José Américo na Literatura de Cordel", visto que, além do deleite natural que a produção literária instaura, o leitor terá oportunidade de apropriar-se de conhecimentos histórico-políticos por meio de versos "exaltativos" que refletem o carisma acerca do notável paraibano José Américo de Almeida.

Campina Grande, 15.05.95

Quando eu morrer!

Quando eu morrer
Riam e cantem comigo
Porque vou indo ao encontro
Do meu filho...

Quando eu morrer
Toquem e cantem
Ao som do violão
A música "Lembranças"

Quando eu morrer
Revoem pássaros
Sobre meu cadáver...

E que rosas vermelhas
Sejam a túnica envolvente
Da minh'alma liberta...

Campina Grande, 07.05.86

Discurso proferido na Academia Brasileira de Letras - Rio de Janeiro

Excelentíssimo Sr. Presidente da Academia Brasileira de Letras Austregésilo de Ataíde.
Excelentíssimo senhores acadêmicos

Centenário do poeta Manuel Bandeira. "O poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte", como bem disse Carlos Drummond de Andrade. Nós, cantadores do Nordeste, prosseguimos itinerantemente com as homenagens ao patrono de nossa Fundação. E para júbilo maior, com apresentações nesta Academia, templo do saber, ninho de poetas, abrigo de literatos. Com razão, Otto Maria Canpeaux, registrou em seu texto poesia intemporal, que "quem fez tanto não passou a vida à toa, à toa". Comprovadamente, constatamos nos preitos que o Brasil inteiro presta a Manoel Bandeira. Destarte, estende-se a cada um de nós, o contentamento de ostentarmos o seu nome. Este, será sempre para a FACMA, "Estrela da vida inteira", inebriando de luz as nossas mentes, alumbrando os nossos caminhos, tornando nossos sonhos mais audaciosos. Para o poeta que ensinou a "Arte de amar" não poderia ser diferente!
Senhor presidente, à arte da palavra impõe-se ao homem mais passivo e indiferente. Nosso irmão nordestino e imortal José Américo de Almeida já afirmava que "a palavra é mais nobre faculdade do homem, não deve morrer na garganta". Valemo-nos dela, portanto, para esternarmos a gratidão, o reconhecimento dos que fazem a Fundação Artístico Cultural Manoel Bandeira, especialmente, o coral falado pelo honroso ensejo de voltar a esta magnânima casa de Letras. A lhanesa com que nos recebeis é vossa; a honraria por estarmos aqui é nossa. Reconhecemos a nossa ineficácia para literariamente, como condiz o ambiente, dizer o que sentimos com os rebuscamentos devidos. Caurvamo-nos diante da retórica que aqui convivem e militam. Todavia, no nosso linguajar peculiar de Nordestina, com afetividade Paraibana, o amplexo caloroso de agradecimento.
Permite-nos, Senhor Presidente, usar deste espaço para fazer um registro que consideramos justo e legítimo. Trata-se do empenho da professora Elizabeth Marinheiro, comandante que nos fez ancorar neste porto, "cidade de sol e bruma", como a chamou Bandeira. A esta campinense, que com obstinação, denodo e eficiência tem elevado o nome de nossa Terra em nível nacional e internacional, devemos também a realização deste momento. Ela é a incentivadora perene de nossa Fundação, o que lhe faz juz o título de presidente de honra.
Finalizando, saudamos a vossa cidade onde um Cristo de braços abertos nos recebe, tomando por empréstimo as palavras de Bandeira:

"Louvo o Padre, louvo o Filho

E louvo o Espírito Santo
Louvando Deus, louvo o Santo
De quem este Rio é filho
-----
Cidade de sol e bruma,
Se não és mais capital
Desta nação não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará o teu brilho,
Igualará teu encanto."

Rio de Janeiro, 28.06.86

A magnífica

Na época atual, encontramos pessoas que param para ouvir o outro, que atendem solícitas e quem as procuram, é difícil, mas não impossível.
"A magnífica" (como é chamada carinhosamente por suas colegas de trabalho, na 3ª Região de Ensino), deixando-a ruborizada como uma adolescente, faz parte desse pequeno grupo de pessoas a que me refiro acima. Ela é magnífica, não por ser a esposa do Magnífico Reitor Sebastião Vieira. É Magnífica, por ser ela mesma: a amiga, a colega, a mulher! É Magnífica pela sua lhanesa e maneira ímpar de ser. É Magnífica, no sorriso franco. É Magnífica na competência do seu trabalho. É Magnífica, na grandeza de sua alma, prontificando-se a orar pelo próximo, dando aquela mensagem de estímulo e fazendo com que nossos sonhos se tornem mais audaciosos. É Magnífica, por ser autêntica e despretensiosa e viver plantando sementes de confiança e de amor.
Continue assim, Gilca, na sua magnitude do saber viver, amando e servindo, pois "o limite do amor é amar sem limites".

Campina Grande, 19.03.86

Discurso no encerramento no IX Congresso Brasileiro de Teoria e Crítica Literária

Caros congressistas.

A emoção se faz presente neste momento. Uma semana em festa! Festa da palavra, da expressão livre, da crítica, do debate. Resultado do esforço e da coragem, do despreendimento e da garra, do denodo e abnegação dos que comungam com a assertiva de que "crer é tornar possível o impossível". Dificuldades? Muitas. Indiferentismo? Talvez! Omissões? Algumas. Adversidades? Quem sabe... Mas nada nos intimidou. Fomos ousados. Somos ousados. Se cremos em Deus, jornadearemos na terra sem adversários... Se cremos em nós, mesmo que nos obscureçam a estrada, deslumbraremos horizontes que nos levarão à realização plena. Os que vivem intensamente a cultura, os que verdadeiramente amam e defendem a arte assumem-se como sujeitos em potencial dentro deste contexto e participam do tempo histórico que lhes forma e lhes provoca.
E por que assumimo-nos e por que empenhamos? Porque paltamo-nos no exemplo de Elizabeth Marinheiro. Porque apraz-nos tornar realidade a aspiração dos seus 25 anos de cultura quando disse esperançosamente: "... nossos sonhos renascerão na perseverança e na obstinação de outros". Porque sabemos que a mestra passa e lição fica. Embora nem todas as lições tenham sido aprendidas. Não obstante tenhamos invadido searas alheias. Perdoe-nos cara mestra. Afinal de contas, somos todos nós eternos aprendizes. Tentamos! Continuaremos tentando.
É hora de agradecer. Agradecemos a Deus pela coragem de facear dificuldades. Agradecemos aos órgãos mantenedores dos Congressos, em nível federal, estadual e municipal. Nossa gratidão aos vários segmentos da sociedade campinense, à Paraíba e ao Brasil. Agradecemos, enfim, aos professores estrangeiros que atravessaram fronteiras para em coro uníssono cantarem conosco. "Tudo vale a pena se a alma não é pequena".

Campina Grande, 24.09.88 - Teatro Municipal Severino Cabral

Lembranças da minha terra

Na Paraíba, encrustrada num dos recantos bonitos do Brasil está uma pequena cidade: Nova Floresta. Foi lá que passei os primeiros anos da minha infância.

Eu me lembro com saudades dos desfiles da Semana da Pátria, das brincadeiras das argolinhas, das corridas de saco e do ovo na colher, dos quebra-panelas e dos pastoris. Tudo isso era organizado pela mestra Julieta, nossa professora primária, com o carinho de alguém que conhece e ama sua terra.

O pastoril era representado num palanque, ao ar livre. As pastorinhas vinham de saias armadas, comandadas pela mestra e pela contramestra. Havia, então, uma disputa entre o cordão azul e o encarnado. Eu fazia parte daquele mundo de alegria. Entrava no palco, cantando:



Os aplausos enchiam-me de prazer e a torcida pel omeu cordão deixava-me com maior responsabilidade.
A contramestra respondia, cantando a mesma estrofe, mas defendendo o cordão azul.
Havia também a Diana. Sua roupa era vermelha e azul. Ela era uma espécie de "coluna do meio", isto é, não pertencia a nehum partido.
As canções eram acompanhadas por Juarez de Sinhá, no clarinete; por Tintim, um cego, na sanfona; por Baltazar, no pandeiro, e por Titico, no cavaquinho.
Era assim que passávamos boa parte do tempo. Éramos felizes naquela pequena cidade da Serra da Borborema.

Texto publicado no livro Alegria do Saber de Albany Fonseca e Lucinda, 1986.

Memórias sobre o processo de alfabetização

Minha infância aconteceu numa pequena cidade do interior da Paraíba. Foi uma infância feliz, apesar das dificuldades da época e na simplicidade dos acontecimentos que me cercavam.
Minha mãe, mestra pelas experiências da vida e já àquela época professora concursada, era líder da comunidade. Com ela fazia o percurso que nos levava à Escola Rudimentar Mista, denominação dada àquele educandário da rede estadual de ensino. Com ela, aprendi as primeiras letras e tive, além disso, os maiores ensinamentos de vida. Sentia-me privilegiada, pois era “filha da professora”, tida como profissional importante e respeitada. Do processo de alfabetização, propriamente dito, lembro-me pouco. Porém, o processo de letramento (na perspectiva de hoje) foi rico e muito proveitoso. Convivia em ambiente letrado e com muita motivação para as práticas de letramento. Minha mãe, a professora Julieta Lima, organizava festas, comemorações, dramas, pastoris, atividades culturais, de forma geral, e eu e minha irmã éramos quase sempre protagonistas daquele mundo de alegria e cor. Tinha uma enorme facilidade de decorar e a declamação de poemas era uma das muitas atividades que eu exercia.
Relembro com saudades aqueles dias, rodeada por momentos e realizações que à época me faziam alegre e espontânea. “Oh! Que saudades que tenho da aurora da minha vida/ da minha infância querida/ que os tempos não trazem mais...”
Hoje, questiono-me, entre perplexidade e circunspecção. O que é ser criança? Viver como criança? Como fazer feliz uma criança presa aos modernismos e tecnologias? Como resgatar o espontaneismo e a naturalidade, frente a um progresso desordenado e a uma violência assustadora? Como aproveitar os recursos tecnológicos e as recentes teorias para tornar a sala de aula prazerosa?
Fazer isso é urgente e preciso para que o processo de alfabetização e letramento se perpetue na nossa memória e tenhamos recordações que possam ser transformadas em boas histórias.

Texto elaborado em sala de aula, em Curso de formação – PROFA/MEC/SEF/UEPB
Campina Grande, 08 de outubro de 2001.

Diálogo com uma grande mãe!




A minha homenagem hoje a você, Irmã Stefanie, é a que eu lhe faria nos dias das mães. E sabe por quê? Porque mãe não é só a que gera, mas a que encaminha os filhos que adotou, no caminho do bem. Isto eu já lhe disse certa vez, lembra-se?


Mãe é aquela que transmite amor, que se doa, que orienta, que acarinha, que levanta o ânimo, que aninha em seu peito os filhos que sofre, que choram ou que, de alguma forma, precisam de amparo. Porém, mãe não serve apenas para enxugar lágrimas, nem atenuar sofrimentos! Mãe que é verdadeiramente mãe trilha veredas, abre caminhos, suplanta obstáculos, atravessa barreiras, vence desafios... Tudo faz para que seus filhos galguem êxitos, sejam vitoriosos.


Por isto, eu a considero uma grande mãe! Tão grande que meu coração torna-se pequeno demais para acomodar a saudade enorme, imensa, incontida que sinto de você. No entanto, resta-me um consolo: saber que você apenas mudou de lugar. Está em outras plagas, pertinho, bem pertinho de Deus. E nessa nova morada, tenho certeza, junto à Virgem Maria, de quem você era devota ardorosa. Você somou-se ao coro de anjos e santos para refletir luz sobre todos nós e entoar hinos de esperança e fé.


E foi com esse espírito filial que muitos se encontraram para demonstrar todo o carinho que sentem por você. Você ouviu, irmã, Wilson Maux, em seu programa matinal, narrando sobre a "menina" burguesa que trocou o seu vestido de baile pelo hábito de freira? Foi emocionante, não?! Você viu como os padres José Vanildo, Ribamar, Genival, Alfredo e frei Francisco fizeram bonito em suas celebrações? Você percebeu que a serenidade de Irmã Lúcia nos levou silenciosamente a sermos fortes superando as nossas próprias fraquezas. Você notou que Déa, naquela simplicidade de sempre, tomava providências, sem sequer alterar a voz? Você entendeu por que Cleonice chorou tanto, mas na hora H, foi competente o suficiente para dar as entrevistas necessárias e fazer-lhe uma homenagem, dando um belo depoimento sobre as lições de amor que com você aprendeu? Você ouviu, irmã, como Luciano, Caio e os outros do grupo musical tocaram e cantaram os hinos de que você gosta? E a serenata da noite? Tenho convicção de que você amou... Você era a metáfora da alegria!


Como? Irmã Celeste? Forte como um touro, vai dar conta direitinho do recado. Vilani? Ah! Irmã, as suas criancinhas que o digam. Jamais, ela as abandonará. Pois, com certeza, lembrar-se-á dos seus ensinamentos e das palavras de Jesus: "Tudo que fizerdes a um destes pequeninos é a mim que fazeis". Sabe irmã, Nilson continua nota dez na direção! E Josué, como sempre, não falha. Ah! Lembrei-me agora. Você deve ter vibrado com os potiguaras de Baía da Traição, dançando e cantando à sua volta. Pois é irmã. Você merece. Se esqueci o restante da turma? Não! Como esquecer? As meninas continuam fazendo aquelas comidinhas gostosas... Terezinha não esquece as flores da capela. Inclusive, colocou as belas orquídeas que Eneida Agra tirou do jardim e levou pra você, nos pés de Nossa Senhora, como você sempre recomendava. Na Secretaria, Saly e Mércia continuam no batente com aquela competência. Coordenadores e professores naquele ritmo de sempre. Educando para a formação integral do homem, tendo o amor como alicerce maior, pois "Educar é arte divina". Não é assim que você pregava? Não, irmã. Não é que você não está fazendo falta. Entenda! O certo é que mesmo com o coração sangrando, continuamos levando um raio de sol, para espargir luz aonde for preciso, uma vez que ao renascer de um novo dia, há sempre a possibilidade de um prosseguir constante...


Estamos, desta forma, absorvendo esta dor e essa saudade com compreensão, esperança e muita fé. Não foi você mesma que disse, certa vez, que "a dor purifica a alma,e em tudo, e principlamente na dor, está a presença de Deus?" É verdade que todos choramos essa falta física, porém temos certeza de que nossas lágrimas são a comunhão perfeita de nossos espíritos, transbordando as emoções que, em determinados momentos, nos é impossível dominar. Tenha, querida irmã Stefanie, a convicção de que a semente que você plantou, jamais fenecerá e, até em terreno arenoso, ela brotará viçosa e fértil.




Texto publicado no Diário da Borborema, Campina Grande/1996

domingo, 6 de abril de 2008

Aos meus filhos

Filhos queridos, oásis da minha existência.
Rosas preciosas do meu jardim sedento...
Ar que respiro, fonte onde bebo.
Luz em minhas trevas
fonte de inspiração

Só vós Filhos amados
Em quarteto harmonioso
compensam a falta do bem precioso
Daquele que se foi.
Prá nunca mais voltar.

Campina Grande, 07.05.86

Agradecimento a Maria Saly

Mãe como eu, soubeste
Avaliar a minha dor
Remiste um coração apedrejado
iluminaste um ser
Amargurado, que às escuras

vagava no sofrer...

Saber-te amiga
Alivia o sofrimento
Levanta-me o ânimo e
Invade de paz o meu espírito.

Querida amiga,
Meus versos não têm a beleza e poesia dos teus, mas são carregados da mais profunda emoção e sinceridade.

Campina Grande, 01.08.85

AUSÊNCIA

Quando partiste eu fiquei triste
Um furacão tumultuou meu ser.

Ontem, presença/alegria

VIDA

Hoje, ausência, tristeza
Pranto e DOR...

Campina Grande, 10.09.90

Saudade

Tarde chuvosa!

A notícia chegou como um furacão devastador. A princípio, a ilusão de um acidente sem maiores conseqüências... A realidade, porém, constrange todo meu ser.

Ontem, presença/vida
alegria/esperança!

Hoje, ausência/saudade
dor/pranto!

SAUDADES!
SAUDADE

SAUDAD...

Flor em orvalho

Teu riso bonito
Teus olhos brilhantes
Já não estás mais aqui

Estão perto de DEUS...

Estão juntinhos de mim
Estão no meu coração...

És presença divina
És ausência/saudade
És flor em orvalho
És meu mais puro AMOR!

AMOR/DOR

Campina Grande, 10.09.90

A onda do mar

Vai e vem, vai e vem
A onda do mar revolto
Vem, pergunta se eu a quero
Volta contente de novo

Nossa vida, como as ondas
É um eterno vai e vem
Corre-se aqui e ali
Para se ter um vintém.

Campina Grande, 26.08.86

Meu filho, meu mundo

Era alegre, jovial. Gostava de festas e de músicas. Adorava futebol. Gostava de "Balão Mágico", de histórias em quadrinhos. Às vezes era travesso, infantil... Às vezes, tinha atitudes de um grande homem. Fazia planos para o futuro. O destino, porém tinha seus próprios planos.

E naquele funesto dia, entrou num maldito carro, para uma aventura sem retorno...

Que saudades, filhinho. Não te esqueço um momento. Às vezes torno-me amarga e péssima companhia... Não posso ainda entender a tua tão precoce partida!

Teus irmão estão casados e já tens um sobrinho. Ele às vezes parece contigo. Tem a tua cor e é vivo e alegre. Quando ele está aqui, eu melhoro um pouco. Ele preenche o teu vazio. Sabe, filho? Eu saio, me troco, me pinto, pensando em ti... Tu só querias me vê arrumada, lembra-te? Como tu eras vaidoso, hein?

Filho, se eu pudesse adivinhar teria te proporcionado maiores alegrias. Nem que tivesse que fazer grandes sacrifícios. Mas, tu sabes o quanto eu te amei e aina o amo. É como disse tua avó Julieta: "O amor de uma mãe por um filho morto, não desaparece apesar dos anos". Para mim, tu permaneces vivo... Tu continuas sendo o meu querido e levado Nildo! Tu és o meu filho - o meu mundo... Tu és a luz que ilumina esta casa, pois te vejo como uma estrela muito brilhante, ao lado do Pai Celestial.

Que Deus amplie a áura de luz que te circunda e te faça um espírito Superior.

Campina Grande, 04.09.86

Borboleta

Borboleta colorida
De asas sempre floridas
No jardim a passear

Tu não sabes como sofro
Por não ter a liberdade
De contigo vaguear

Tu és livre como os pássaros
és frágil como cristal
Mas és rainha do ar.

Campina Grande, 26.08.86