segunda-feira, 21 de abril de 2008

Diálogo e relação com os saberes

Tarde de sábado. No Restaurante “Aconchego”, literalmente, em Sousa, brindávamos o término de uma disciplina, em Curso de Especialização. Não bastasse o calor do clima da cidade, aquecia-nos muito mais o calor humano daqueles alunos. Os depoimentos sobre a metodologia pertinente e as estratégias variadas eram ressaltados. Falavam entusiasmados sobre a produção dos artigos, que, de início, causou um certo frisson, mas que para eles, foi uma grande oportunidade de praticarem o processo da autoria. Expressavam contentes a experiência de vivenciarem a defesa de seus posicionamentos, em relação aos temas escolhidos, e ainda, o valor das trocas enunciativas ocasionadas pelo ecletismo temático em cada artigo apresentado.
Tudo isto me trouxe à mente a contribuição fantástica do trabalho publicado por Règine Delamotte-Legrand (2002), que explana tão bem sobre a profissão de professor e a relação com os saberes. No dizer dessa autora, o saber erudito, cientificamente legitimado, deve estar em sintonia com o “saber-fazer” e o “saber-ser”, fundamentos indispensáveis e constitutivos na dimensão da prática pedagógica. A autora vai mais além, ao definir a transposição didática e as condições de transformação das relações que o aprendiz mantém com os saberes. Nessa perspectiva, “a ênfase recai, então, sobre a dimensão social dos saberes, sobre a coexistência, dentro da instituição escolar, de culturas diferentes, de curiosidades e expectativas diversas e seus efeitos linguageiros nas interações em sala de aula” (Op. cit., p. 130). Seguindo a ótica da linguagem como trabalho, a pesquisadora apresenta conceitos e reflexões que suscitam essa área, mostrando que os “saberes científicos” não são os únicos saberes de referência para os “saberes ensinados”. Ratifica que existem “saberes especializados” de todas as naturezas e “saberes sociais” ligados às práticas sociais. É o conjunto dessas práticas que pode ser fonte de legitimação dos conteúdos a ensinar, cujo ponto de partida é mais procedural do que declarativo, ou seja, que os discursos científicos, especializados ou técnicos sejam reformulados em discursos didáticos.
Chegamos à conclusão de que esses direcionamentos são eficazes e de que vale a pena pô-los em prática.

Fonte: DELAMOTTE-LEGRAND, R. A profissão professor: relações com os saberes, diálogo e colocação em palavras. In: SOUZA-e-SILVA, M.C.P e FAïTA, D. (Orgs.). Linguagem e Trabalho. Construção de objetos de análise no Brasil e na França. Tradução de Inês Polegatto Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2002.