sexta-feira, 16 de julho de 2010

O frio da alma

Tarde fria na serra! A chuva fina acaricia as plantas que parecem sorrir. Fica gostoso agasalhar-se para dormir. Os cobertores nos fazem afagos e aconchegam o nosso corpo.

Nosso pensamento voa, percorre caminhos, faz atalhos, chega ao país da imaginação. Ficamos a nos perguntar o que seria de nós sem o agasalho do afeto. Sem braços abertos pra nos receber. Sem mãos fortes e generosas que se estendem pra nos proteger. O que seria sem a palavra que ecoa em nosso coração dizendo "conte comigo", "eu estou aqui". Sem o olhar amigo que nos contempla nas horas que mais precisamos.

Com estas reflexões, chegamos a uma conclusão. Como deve ser triste transitar pelos caminhos da solidão! Como deve incomodar andar por territórios impregnados de desumanização. Como deve angustiar seguir veredas, onde procuramos alguém e não encontramos. Enfim, prosseguir na trama da existência e não conseguir respostas para nossos questionamentos, nem ter com quem partilhar nossos sentimentos.

Assim, nessa busca incessante para preencher esses vazios, é preciso mergulhar em nosso interior e procurar guarida para dar asas aos nossos devaneios. E é nessa busca que aprendemos. Tomamos consciência de que somos seres históricos, sociais, dotados de subjetividades. E se somos sociais é o outro que nos completa. Tornamo-nos melhor ampliando as nossas relações. É esse processo de agregação que possibilita ao ser humano o crescimento de seu horizonte de sentido, diz Fábio de Melo.

Nessa perspectiva, precisamos manter boas relações de amizade, de carinho, de afeto, porque "relações humanas são como pontes", cuja travessia precisa ser feita para atenuar distâncias entre nós e o outro.

Precisamos, portanto, aquecer não apenas o frio do corpo, mas o frio da alma, para fortalecer as nossas esperanças e alimentar o nosso espírito. Preservemos, pois, nossa vida afetiva e procuremos desmontar o gelo do desamor, para que não habite em nós a frieza da solidão.