sexta-feira, 18 de abril de 2008

Meu pequeno jardim...



Meu jardim é pequeno, mas torna-se grandioso pelo que ele representa para mim. Suas flores são presentes, doando-se em profusão de graça e cor. O buganvile, constantemente florido, assemelha-se a um sorriso em festa! Seus galhos frondosos e floridos parecem querer abraçar-me, pela forma graciosa como se apresentam. Já o minúsculo beijo, pequeno em sua constituição, é um mimo, pela beleza e simplicidade que lhe é peculiar. Delicado e sensível, precisa de uma atenção especial. À ausência de cuidados, ele reclama de imediato, como a pedir socorro: Salvem-me! Minhas pequenas violetas, em seu colorido vivo, representam a liguagem viva do bem querer.

Minhas palmeiras, se não ostentam tanta beleza, pela ausência das flores, em compensação, alhardeiam, por meio das folhas, a sua exuberância na coreografia sutil de seus movimentos.
É muito bom manter um diálogo diário com esses “companheiros” que fazem parte do meu cotidiano.

Campina Grande, 13.04.2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Agradecimento a Rossana!

Homenagem não se pede. Talvez por isso, as homenagens são, em sua grande maioria, após a morte. Mas, que bom que alguém seja homenageado em vida. Tem razão o poeta quando afirmou em música popular: “Se alguém quiser fazer por mim que faça agora”.
Foi assim que me senti ao saber da criação de um “blog” feito com toda dedicação para mim. Homenageada! Um “blog” para que eu pudesse registrar as minhas sensações de alegria, de tristeza, de angústia, de vitórias e tudo, enfim, que mexe com as minhas emoções. Para também, como o faço neste momento, poder agradecer, do mais recôndito de minha alma, a Deus, por tudo de bom que ele tem me proporcionado.
São estas atitudes vindas, especialmente, de pessoas que são ligadas a mim afetivamente, que me deixam impregnadas das sensações mais fortes, que marcam no íntimo do meu ser o sentimento mais profundo, amolecem o meu coração e me fazem envaidecida dos filhos que coloquei no mundo. Valeu a pena as noites mal dormidas, as preocupações cotidianas e rotineiras do dever de “ser mãe”. Se me perguntassem se vale a pena viver, eu diria como Gonzaguinha: “Faria tudo outra vez, se possível fosse...”.
É bem verdade, que nem tudo na vida é “um mar de rosas”. Mas, se fizermos do limão uma limonada, as coisas tomam novo rumo. Em nossa caminhada, a experiência me fez ter uma cosmovisão do mundo, a ponto de poder afirmar com certeza: a vida é uma colcha de retalhos, onde se vai costurando, amarrando, pregando, com os fios que brotam de nosso coração, cada “pedacinho de pano” que sobrou das nossas façanhas e proezas da arte de viver. Muitas das vezes, há retalhos que parecem fotografias nítidas de cada cena que foi representada no palco da vida. Muitos deles “manchados” por tintas tão fortes, que ofuscam os nossos olhos e embotam o nosso coração. Outros vêm de mansinho, com suas cores suaves, nos aconchegando e enchendo os nossos olhos de alegria.
Esse “blog”, Rossana, elaborado com tanto carinho, é mais um retalho que acrescento à minha grande colcha... Retalho carinhoso e sugestivo que me faz sentir viva e motivada para continuar vivendo.
Obrigada, filha querida. Você, sim, é divina... Instrumento de Deus na minha vida.

Campina Grande, 06.04.2008. (20h45min)

Às Marias!

Trazer à tona os laços que me ligam à Universidade Estadual da Paraíba e à minha ascensão como mulher me fazem viajar no espaço da imaginação, evocando lembranças que espelham a minha inserção no mundo acadêmico. Em ordem crescente situo essa trajetória: aluna, monitora, professora substituta e professora efetiva por meio de concurso público, galgando um primeiro lugar. Não foi fácil esse percurso. Os contratos sociais, estabelecidos pelo discurso do poder, do líder, do homem, dificultavam a ascendência da mulher nos contextos social, político e outros. Contudo, o meu eu lírico gritava dentro de mim: “Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo”. Assim, ultrapassei entraves. Rompi tabus. Confiei no amanhã.
Graças a tantos outros com os quais me somo, na medida em que me divido, e à minha persistência, redesenhei caminhos, trilhei veredas e escrevi a minha história, cujo registro o tempo jamais há de apagar. Com familiares e amigos me fortaleci como mulher. Na UEPB, me firmei como docente. Exerci cargos administrativos, tais como: Coordenadora de Curso, Chefe de Departamento, Pró-reitora adjunta, membro dos conselhos superiores (CONSEPE e CONSUNI), revisora lingüística da Editora Universitária, membro de comissões de concursos e outros.
Sinto-me lisonjeada ao ser convidada para dar esse depoimento e muito à vontade para dizer que, se da UEPB muito recebo, também contribuo para o crescimento desta instituição, produzindo cientificamente e desenvolvendo as funções que me atribuem, com responsabilidade e compromisso.
Orgulho-me de fazer parte desse todo que se tornou gigante por ser uma universidade que pensa dialogicamente em busca de ações coletivas e porque plurais tendem ao acerto. Uma instituição que tem à frente uma grande mulher como Reitora e que acredita num porvir de realizações.
No dia internacional da mulher, tenho a certeza de que, a exemplo de muitas Marias, “nasci ninguém, deram-me um nome, uma inquietação e uma sede de justiça que viajam comigo...”. A exemplo de muitas Marias, carrego dentro de mim a fé, a garra, a coragem e a força de ser mulher.

Campina Grande, 07.03.2007

“Domingo nas asas da saudade”

Por força das circunstâncias, não viajei neste carnaval. Liguei a Rádio Ariús para deleitar-me com sua seleção musical e programas. Um deles me enterneceu, acariciou a minha alma e enlevou o meu coração. A voz doce de Zilda Rasia, que no dizer de Massilon Gonzaga é a “paixão da cidade”, apresentou programa especial rememorando carnavais de outrora. Iniciando a sua página musical com “Bandeira Banca” de Dalva de Oliveira “a voz que toca ao seu coração” me fez viajar no espaço da imaginação, em busca de registros de carnavais dançados e vividos. Outras músicas alternadamente às de carnaval, também evocaram lembranças que tocaram deveras o meu coração...
Que bom existirem pessoas sensíveis como Zilda Rasia que assume o saudosismo e enriquece a sua vida levando aos outros um bálsamo de luz, leveza, amor e saudade... Em épocas que o tema central é violência, alguém com a competência e sensibilidade de Zilda traz a alegria de viver e a certeza de que felizes são aqueles que têm histórias para contar.
Viver é isto. Saber que construímos, que tivemos alegrias, emoções, tristezas, mas estamos de pé, confiantes, sabendo que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Saber também que viver é ter saudades, cujo termo somente a língua portuguesa usa de modo especial e de forma tão expressiva. Outros idiomas têm palavras semelhantes, porém sem o alcance e a freqüência do vocábulo português.
A palavra saudade é uma fonte de oportunidades para a expressividade lingüística de quem a usa e por isso exaustivamente explorada pelos poetas.
Zilda ao apresentar seu programa “domingo nas asas da saudade” joga sabiamente com a versatilidade do termo. Fazendo com que figuradamente concordemos com os versos: “A saudade é dor pungente/ a saudade mata a gente...”
Obrigada, Rádio Ariús, por nos oportunizar momentos tão agradáveis.

Campina Grande, 18.02.07

Mensagem - Fundação Artístico Cultural Manuel Bandeira

Chegamos ao término de mais um ano. Dificuldades vencidas, barreiras ultrapassadas, trabalhos divididos, projetos concluídos, alegrias somadas, esperança sempre... Para quem acredita em si mesmo, acredita em seus pares e crê na divindade, nada é impossível...
Foi muito bom contar com o esforço pessoal de cada um para lograrmos todos juntos as nossas vitórias. Podem parecer pequenas, mas conseguimos agigantar-nos na conquista de nos mantermos firmes ligados na corrente que parecendo frágil, tornou-se forte, pois seus elos ampliaram a soma das realizações, a cada ação implementada.
Somos gratos a todos... Se Jesus em uma manjedoura encontrou a porta de entrada para convidar os corações e cantar as glórias do Pai, ensinando o inconfundível poema do amor que liberta e felicita, agradecemos a Ele, por este momento e O louvamos por um Natal que se prenuncia e um Ano Novo que se vislumbra! Desejamos a todos graças, muitas graças e que possamos sempre juntos entoar o canto da paz!
Feliz Natal para todos dos que fazem a FACMA.

Dezembro/2007

Descompromisso Crítico e Minimalismo Multicultural

Ao reler “Descompromisso crítico e minimalismo multicultural - exercícios em torno dos discursos”, da Professora Elizabeth Marinheiro, relembro a cena do lançamento desse livro, em Campina Grande-PB. Em monólogo interior, perguntei-me: o que acrescentar ao já dito pelo Professor José Mário, em magnífica apresentação? No entanto, vêm-me à mente os conceitos de Bakhtin e revejo com nitidez a existência da “multivocalidade” como marca característica dos discursos e redesenho o meu pensar. Reflito que os enunciados de cada discurso têm um percurso que faz com que carreguem a memória de outros discursos.
Releio, também, o autógrafo de Elizabeth, afirmando que “alguma palavra vinda (...) sobre este livro o deixará mais fortalecido.” Sinto-me encorajada! Os discursos da autora não me deixam calar. Calar verdades é ser cúmplice de injustiças. Calar verdades é, no mínimo, ser cúmplice de omissão... Não quero ser injusta. Não pretendo ser omissa.
É preciso, pois, registrar que o “outro” nos “exercícios em torno dos discursos” é constitutivo do sujeito e da linguagem. No dizer de Beth Brait, a autora “recupera o caminho bakhtiniano para a constituição de uma concepção de linguagem em que o dialogismo e a polifonia são alicerces necessariamente calcados” (...), resultando numa heterogeneidade discursiva.
Elizabeth parece eximir-se de ser a fonte do discurso e explicita a presença do “outro”, por meio do processo da “denegação”, instaurando a alteridade e delimitando o seu lugar para cirscunscrever o próprio território. E nesse “savoir-faire”, ao dividir seu espaço de interlocução, o sentido se subjetiva e o discurso multifacetado se revela.
Entretanto, nesse amálgama de enunciados e nesse jogo de produção de sentidos, meu olhar se volve para um texto em particular: “Última página?...”. Tomo as palavras da própria autora para falar desse texto: “O olhar se estende ao espaço epistolográfico para dizer o coração. Os estados do coração criam aquela voz que não se desvincula da vida. A inteligência sai da pena com forma de sangue, de lágrimas. De amor, saudade, comunhão.” (Das epístolas, p. 106). Este enunciado, por si só, ressignifica qualquer leitura do texto “Última página?...”.
É como se a autora voltasse ao palco da enunciação para encenar apoteoticamente as suas dores, as suas saudades, o seu viver... Porém, ao falar a linguagem do amor, na dimensão maior da plurissignificação, se instaura, paradoxalmente, uma presença/ausência, uma vez que a coexistência de si mesma e da outridade resulta numa enriquecedora confluência de discursos.

Campina Grande, 07.08.2007

Os ipês de Campina!

Há alguns anos ganhei um livro de crônicas de Francisco Pereira Nóbrega – “A palavra na construção do homem”. São belíssimas crônicas escolhidas e publicadas para nosso deleite. Em uma delas o autor aconselha “para que uma flor não murche antes que alguém a diga bela”. No dizer desse autor, esse não é apenas o discurso do romântico. O da ciência é muito mais romântico. Há 450 milhões de anos, peixes se fizeram anfíbios. Não conseguiam viver na terra que tinha uma vegetação sem folhas, flores ou frutos. O primeiro vegetal era apenas uma grama. Era o arrepio verde da terra adolescente quase fecunda para gerar a vida. Milhões de anos depois, as plantas inventaram flores e foi primavera na terra. E o coração do anfíbio dividido, entre terra e água, decidiu ficar na terra. Tornou-se réptil, abraçando o solo num gesto de amor. Há 350 milhões de anos, portanto, existe a flor e ela ainda não se tornou banal, pois em nenhum outro recanto do universo, a natureza floriu.
Neste sentido, nós campinenses somos agraciados por tamanha dádiva! Campina está mais bonita! As frondosas árvores que ornamentam as avenidas e praças da cidade prenunciam o advento, o Canto do Natal. Os ipês carregados de flores ensejam uma leitura semiótica, vez que são ícones belos e majestosos em simbiose perfeita da natureza com o Criador. São também índices que nos levam a repensar sobre nossas ações, para que viemos ao mundo e por que vivemos em sociedade.
O cromatismo das flores parece debruçar-se sobre a cidade num amplexo de Paz e Luz sobre todos, nesta época que se aproxima um ano novo. Os ipês são, ainda, sons em cores como a entoar canções de amor. Uma sinfonia perfeita que deve ecoar em cada coração. Uma linguagem cuja mensagem nos ensina para que vivamos o deslumbramento de cada amanhecer. Um signo maior que nos orienta para desfrutar o que é belo, o que nos faz bem aos olhos e ao coração, o que encanta e pacifica o nosso espírito.
E tudo isso, gratuitamente! Sem taxas, nem cobranças de direitos autorais.


Campina Grande, 2006

O caos continua...

Há algum tempo, para ser mais precisa, em 2001, apresentamos na XI Semana de Letras da Universidade Estadual da Paraíba um trabalho intitulado “Parece Cômico, se não fosse Trágico”. Naquela ocasião, discutia com meus pares, entre perplexidade e preocupação, as “criações” absurdas de alguns vestibulandos. Entre outras questões, refletíamos sobre a necessidade de se trabalhar a linguagem como uma construção social, resultado da interação humana que se atualiza na enunciação dialógica. Questionávamos, sobretudo, casos de inadequações discursivas, muitas vezes, tão visíveis no manejo usual da linguagem, mas lamentavelmente, tão imperceptíveis aos olhares de nossos alunos. Em recortes feitos de determinadas produções textuais sobre o tema “Desemprego”, colhíamos os seguintes fragmentos: “É preciso que o emprego seja uma fonte insecável...; “O mundo atual está vivendo um problema muito sério, ou seja, o trabalho...”; “Para o homem não se destruir é preciso está mais capacitado na sua área de trabalho, do contrário, o planeta fica desempregado...’, e, entre outros, são muitas as “pérolas” que faziam parte da nossa coleta de dados. Verificávamos, então, que esses e tantos outros enunciados analisados, além de incoerentes, tornavam-se hilariantes.
Para meu desencanto, seis anos são decorridos e a cena se repete. Desta feita, a internet divulga “As últimas do ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio”. Revejo apreensiva que O CAOS CONTINUA... Afirmações estapafúrdias, tais como: “As estrelas servem para esclarecer a noite e não existem estrelas de dia porque o calor do sol queimaria elas...”. Conceitos equivocados, seguidos de argumentos inconsistentes, são outro exemplo que citaríamos: “A terra é um dos planetas mais conhecidos e habitados no mundo. Os outros menos demográficos são Mercúrio(...) e outros que esqueci e está na hora de entregar a provas. Mas tomara que não baixe a nota por causa disso porque esquecer a memória em casa todo mundo esquece um dia, não esquece?”. Circularidades fúteis, como “Os índios sacrificavam os filhos que nasciam mortos matando todos assim que nasciam...” e tantos outros enunciados que o espaço exíguo deste texto não comportaria.
Embora constatemos não haver problemas tão sérios com o domínio do código, verificamos que esses enunciados são frutos de sujeitos que passaram por uma escola que não lhes deu oportunidades para que eles participassem do “jogo” da escrita, assumindo a função de sujeitos-autores, do querer dizer e do saber dizer...
Fala-se tanto do perigo do uso da linguagem no computador, o “internetês”, mas em nenhuma das construções colhidas, verificamos a influência dos gêneros digitais na forma de escrever. Em contrapartida, em recente reportagem da Veja (16 /05/2007), a autora Sílvia Rogar afirma que nunca se escreveu tanto e que a escola é que precisa acompanhar essa tendência. Os próprios entrevistados depõem sobre o cuidado que têm quando da necessidade de usar a língua padrão. O perigo, pois, não reside aí... (Aliás, “pano pras mangas” para uma outra discussão, um outro texto).
Urge, portanto, acabar de vez com o silenciamento das relações intersubjetivas em sala de aula. Que se promovam ações concretas para a efetivação de uma cultura escrita proficiente. Que o PDE (Plano de Desenvolvimento para a Educação) seja uma realidade e que possa inverter esse cenário, cujos atores aproximam-se da comédia e da tragédia.


Campina Grande, 2006.

Ser professor!

É impressionante, na chamada era da informação, encontrarmos pessoas fechadas nos muros da incompreensão, da desesperança, da indiferença, do mutismo, ceticismo, niilismo e outros “ismos” tantos que seriam intermináveis.
Nesse contexto, buscando a verdadeira interlocução, tentando quebrar algemas aqui, afastar empecilhos ali ou derrubar barreiras alhures, encontramo-nos como professora. “Navegar é preciso...” Abraçando a carreira com responsabilidade e compromisso, enfrentamos alegrias, frustrações, e as angústias do cotidiano. Muitas vezes, é preciso acordar consciências, sacudir jovens velhos de suas inércias e, por que não dizer, de suas omissões. Chegamos, em alguns momentos, a ser até redundantes nas orientações dadas para incentivarmos nossos alunos à participação e ao diálogo.
Entretanto, a profissão, apesar de tão desvalorizada, nos proporciona momentos gratificantes, o que, sem dúvida alguma, ajuda-nos na travessia. São o sucesso dos ex-alunos, os gestos daqueles que nos cumprimentam efusivamente, nos abraçam com afeto, nos enviam mensagens e dão depoimentos a nosso respeito, afirmando que os diálogos mantidos serviram de reflexões em suas vidas.
Diante de tudo isto, refletindo sobre o nosso papel de educadora, afirmamos: SER PROFESSOR é...

“(...) Ser humilde para aceitar.
(...) Ser seguro para entender.
Renunciar um pouco de si a cada dia.
Não só ensinar, mas também
aprender.”

Campina Grande, 15 de outubro de 2005.

Discurso proferido: Inauguração do Fórum de Cuité - Ondina Lima

Exmo Sr. Prefeito Municipal Dr. Antonio Medeiros
Exmo Sr. Desembargador Antonio de Pádua de Lima Montenegro
Exmo. Sr. Juiz de Direito da Comarca de Cuité.
Caros familiares
Meus senhores e senhoras

Trago em mim, neste instante, um grande desejo. O de poder externar em palavras todos os sentimentos mais puros e sinceros para ser fiel à tarefa que me foi incumbida. Agradecer em nome da família Fonseca Lima a homenagem concedida à querida Ondina.
E lembrá-la é compor uma melodia, é cantar uma canção num misto de amor e saudade. Ondina, como disse Cecília Meireles, foi “pastora de nuvens” numa trajetória de vida dedicada à família, ao trabalho e à justiça.
Havendo herdado do meu avô, Benedito Lima, os dons para ser serventuária da justiça, seu exemplo de vida é tributo do qual nos orgulhamos. Os que a conheceram são testemunhas de suas ações, à frente do Cartório do Registro Civil de Cuité, também Cartório Eleitoral, atendendo a todos com as lhaneza e amabilidade que lhe eram peculiares. Alguns, porém, a visitavam no Cartório para usufruir de sua amizade e partilhar de seus conhecimentos, exemplo de Benedito Venâncio, Maria Augusta, Dedé Fonseca, Dr. Diomedes e tantos outros “companheiros de caminhada das nuvens que no chão não pousam".
Lembro-me de quando comentava sorridente da presença dedicada de Zé de Luzia, que ao vê-la, às vezes, preocupada com determinadas tarefas, recomendava-lhe: “D. Ondina, cumpra a lei e conte comigo”.
Quantos casamentos, quantos registros de nascimento e óbitos, quantos títulos eleitorais passaram por suas mãos! São histórias de vida que o tempo não apaga e que tiveram a escrivã Maria Ondina de Lima como partícipe desses enredos e seu Cartório palco para a representação dessas “epopéias”, de cujas tessituras ela também foi personagem.
Quantos juízes, como o Dr. Rivaldo Fonseca, Dr. Guimarães, Dr. Onildo e outros conviveram, privaram de sua confiança e elogiaram o seu "modus vivendi" e a sua conduta ilibada.
À Noêmia, sua amiga mais fiel, confiou os destinos do Cartório, “santuário vivo” de sua caminhada de labor, ao aposentar-se e ir morar em João Pessoa, onde colaborou por bastante tempo na Secretaria de Finanças do Governo do Estado, levada pelas mãos do querido sobrinho José Itamar.
Para a família, teve nos olhos ternuras que a palavra emudece quando as quer contar... não lhe faltavam, também, serenidade e firmeza nos aconselhamentos e decisões, quando necessário. Orgulhava-se e vibrava com veemência com o sucesso de todos, indistintamente, e com toda a certeza, aonde estiver, se lhe for permitido, estará muito feliz, hoje, por seu sobrinho Antonio de Pádua Lima Montenegro haver galgado o cargo mais importante da Magistratura do Serviço Eleitoral do Estado da Paraíba, o que também nos envaidece.
Resta-nos agora agradecer, pois acreditamos que saber agradecer dignifica a pessoa humana e engrandece a ação dos idealizadores dessa honraria.
Salmodiar a Deus, porque...
“O Senhor conhece os dias dos retos e a sua herança permanecerá para sempre” (Salmo 37:18).
Agradecer à Magna Corte pela aprovação do nome de Maria Ondina de Lima para personalizar tão importante órgão da justiça.
Agradecer à Prefeitura Municipal na pessoa do Sr. Prefeito Municipal Dr. Antonio Medeiros e toda a sua assessoria pela acolhida que nos deu, com a mesma extensão e força de seus gestos.
Agradecer, finalmente, aos familiares e conterrâneos, que comungam conosco deste momento de alegria e emoção.
Muito obrigada.

Cuité, 25.01.05

Formação do Professor

Falar em formação do professor nos remete de imediato ao palco do Curso de Pedagogia em Serviço, cujos protagonistas nesta busca de SER MAIS, como diria Paulo Freire, buscam o diálogo como prática de liberdade.
Já não somos mais professores em processo dicotômico, com uma práxis educativa voltada para os interesses da classe dominante. Uma educação imposta pelos ditames do poder e dos seus costumes que rechaçam os conhecimentos prévios dos sujeitos fazendo da palavra um “direito do poder”.
A realidade, hoje, é outra. Estamos na abertura de uma “Semana Pedagógica Cultural”, comungando idéias e dividindo parcerias com a Universidade Estadual da Paraíba e as prefeituras municipais. Estamos todos irmanados num só propósito, ou seja, mudar a forma de pensar e fazer educação. Se não conseguirmos resolver os problemas educacionais do presente, para os brasileiros de hoje, não teremos legitimidade para arquitetar soluções para amanhã. Qualquer tentativa de fazer projeções futuras sem mostrar resultados no presente é ilusionismo e diversão.
Neste sentido, a formação do professor é condição sine qua non para que transformações aconteçam, para que tenhamos novas cenas. É a demonstração plausível da vontade política necessária e suficiente na adoção de políticas de qualidade para reverter o quadro do fracasso escolar.
Mas, nenhuma decisão política terá êxito, se não contarmos com o empenho e compromisso do professor. Por isso objetivamos transformar o perfil do professor, de modo que ele possa conhecer múltiplas formas de aprender a aprender e aprender a ensinar. Para tanto, precisamos de professores que saibam ler, que gostem de ler e que difundam a competência e o gosto pela leitura . É necessário, ainda, que os professores se questionem: Quais são as saídas? Como lançar no presente, as bases que assegurem uma política educacional de qualidade? Como evitar que as utopias sirvam apenas de ópio para mascarar a realidade e reproduzir ilusões? Urge, pois, um primeiro passo: o esforço para construir uma nova escola, enfrentando o problema número um da educação brasileira, ou seja, a qualidade do ensino fundamental, estabelecendo um sistema de ensino de qualidade cuja tarefa é nossa, e que com trabalho sério e concentrado, mesmo a longo prazo, será possível.
Nas nossas andanças, em cursos de formação de professores, já se tornou lugar-comum ouvir dos nossos colegas queixas e lamentações sobre o nível dos alunos, alunos que chegam à 4ª série (atual 5º ano) sem a capacidade enunciativo-discursiva necessária para produzir um gênero textual. O que fazer? Como mudar essa realidade?
Em nossas mãos estão as respostas. É preciso um redesenhar das nossas ações, utilizando os novos conhecimentos apropriados, as reflexões feitas e as orientações dadas para saber lidar com as questões de eficiência, por meio de políticas e práticas de gerenciamento educacionais, de modo que se reverta o quadro que aí está. Não vale a pena o diploma recebido, o anel no dedo, se não estivermos abertos às mudanças. Como diz Madalena Freire no livro “Paixão de Aprender” (1993), “o educador educa a dor da falta, cognitiva e afetiva, para a construção do prazer. É na fala do educador, no ensinar (intervir, devolver, encaminhar) expressão de seu desejo (...) que ele tece seu ensinar (...) e aprender movidos pelo desejo e pela paixão”.
Afirmar nas palavras de Rafael Ramos (2001) que “enquanto persistir a visão dos professores como um a mera peça da engrenagem do sistema educativo, suscetível de ser modificada em função de planos realizados centralizadamente, as instituições dedicadas à sua formação manterão um modelo de formação como ‘adequação’, na qual mais que formação busque-se ‘conformação’.
Portanto, mais formação e menos conformação! Faço minhas as palavras de Madalena Freire: “Estar vivo e estar em conflito permanente, produzindo dúvidas, certezas sempre questionáveis.
Estar vivo é assumir a educação do sonho no cotidiano.
(...)
Medo e coragem em ousar.
Medo e coragem em assumir a solidão de ser diferente
Medo e coragem em romper o velho.
Medo e coragem em assumir o novo.
(...) Só somos sujeitos porque desejamos”.

Campina Grande, 25/05/2004

O texto: entidade histórica e lugar de correlações

A produção textual deve ser considerada como resultado de uma atividade comunicativa que se faz seguindo regras e princípios discursivos sócio-historicamente estabelecidos que têm de ser observados. Somente trabalhando a linguagem de forma dinâmica e dialógica, poderemos concebê-la como um fenômeno pluridimensional, levando em consideração os elementos que integram as condições de produção de linguagem, entre outros, o código lingüístico e o contexto histórico-cultural em que vivem e atuam os interlocutores e que determina sua teoria do mundo (COSTA VAL, 1994, p. 9).
Na construção de textos, utilizamos nossa teoria de mundo e essa atividade semiótica se constitui historicamente, sendo determinada pelo contexto histórico-cultural, não apenas no que se refere aos conhecimentos partilhados pelos membros de uma comunidade, mas também, e sobretudo, pelo valor político e ideológico com que são marcados os conhecimentos e os indivíduos.
Nessa perspectiva, o texto não é apenas um somatório de frases nem um amontoado de idéias. O texto é um conjunto de partes solidárias produzido por um sujeito, historicamente localizado num dado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, no dizer de Platão e Fiorin (1996, p. 17), “por pertencer a um espaço expõe em seus textos as idéias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social”.
Por isso, o texto pode ser concebido como lugar de correlações, levando-se em consideração as concepções existentes na época e na sociedade em que o texto foi produzido e as suas relações com outros textos.
Como afirma Geraldi (1997, p. 22), o texto é precisamente o lugar de correlações porque construído materialmente com palavras (que portam significados) organiza estas palavras em unidades maiores para construir informações cujo sentido/ orientação somente é compreensível na unidade global do texto.
Este, por seu turno, dialoga com outros textos sem os quais não existiria. Essa correlação constitui nossa herança cultural e nos leva a verificar a propriedade intrínseca do texto, ou seja, a de se constituir a partir de outros textos, o que faz com que ele seja atravessado, ocupado, habitado pelo discurso do outro, comprovando a heterogeneidade constitutiva da linguagem.
Isso nos leva a concordar com Platão e Fiorin (1997, p. 29), quando afirmam que “um texto remete a duas concepções diferentes: aquela que ele defende e aquela em oposição à qual ele se constrói”.
Segundo esses autores, no texto ressoam duas vozes, dois pontos de vista e sua historicidade é estudada por meio da análise dessa relação polêmica. Esses pontos de vista são sociais e, portanto, divergentes. Em virtude disto “o discurso é sempre a arena em que lutam esses pontos de vista em oposição” (PLATÃO e FIORIN, 1997, p. 30).
Nesse sentido, podemos dizer que “todo discurso é histórico” e o texto como produto materializado do discurso, funciona como uma entidade histórica, por meio do qual os usuários da língua confrontam saberes e conhecimentos, constroem novos contextos e situações reproduzindo e multiplicando os sentidos em circulação na sociedade. Esses sentidos, socialmente constituídos, serão os verdadeiros elos da corrente de mudanças na construção histórica de uma sociedade diferente.
Sendo assim, não podemos conceber a ausência de simetria entre a instituição escolar e a sociedade, tendo em vista as constantes transformações sociais, políticas, econômicas e culturais na configuração dos educandos.
Se a escola pretende formar produtores de textos críticos e criativos não pode, paradoxalmente, fazer uso de recursos didáticos e estratégias que levem à automatização dos alunos. É preciso que o professor de língua assuma uma atitude de orientador encorajador, interessado a ajudar ao aluno “a dar o seu recado da maneira mais eficiente possível e não como o detector de erros e principal responsável pelo sentimento de inferioridade intelectual desse aluno” (COSTA VAL, 1994, p. 15).
É preciso, ainda, que o professor perceba que se ele puser em prática procedimentos de ensino que privilegiem, apenas, a mecanização, a repetição e a monotonia, irá de encontro a toda uma pluralidade de linguagens pertencentes a variados universos simbólicos do mundo extra-escolar do aluno, que são mediadores de sua interação com o meio sócio-histórico.
Nessa perspectiva, produzir textos significa registrar a história, seja ela do tempo do aluno, da classe social a que ele pertença ou da própria experiência devida, ampliando relações entre casos particulares e a conjuntura social a que tais fatos estejam associados.
Dessa forma, o professor que propicia o uso da língua articulada por sujeitos em interação, passa a “valorizar o texto do aluno, este como instância de sua enunciação aquele como entidade histórica, à medida que sujeitos e textos realizam-se na ação, no trabalho sobre e pela escrita” (JESUS, 1997, p. 100).
O texto, portanto, é entidade histórica e lugar de correlações
“...cruzamento das vozes oriundas de práticas de linguagem diversificadas”, que, “...tecido polifonicamente por fios dialógicos de vozes que polemizam entre si, se completam ou respondem uma às outras” (BARROS, 1994, p. 4).

Referências
BARROS, D. L. P. Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade: Em torno de Bakhtin. São Paulo: EDUSP, 1994.
COSTA VAL, M. da G. Interação lingüística como objeto de ensino-aprendizagem da língua portuguesa. In: Jornal da Alfabetizadora. Porto Alegre: Kuarup, 1994, p. 8-13.
GERALDI, J. W. Da redação à produção de textos. In: CHIAPPINI, L. (Coord.) Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, 1997.
JESUS, C. A. de. Reescrevendo o texto: a higienização da escrita. In: CHIAPPINI, L. (Coord.) Aprender e ensinar com textos de alunos. São Paulo: Cortez, 1997.
PLATÃO, F. S. e FIORIN, J. L. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1996.

Texto publicado no Jornal Dialogando, UEPB/CEDUC
Campina Grande, 2002.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Uma trajetória de múltiplas vozes

A história da UEPB confunde-se com o sentido da palavra "construir", literalmente, e com outros significados do termo que se adequam ao contexto histórico-cultural que permeia essa instituição. Em sua longa trajetória, a UEPB enveredou por caminhos arenosos, superou crises e granjeou vitórias. Entre percalços e conquistas, muitos foram os avanços e inegável o despojamento de tantos que colaboraram e se empenharam nessa construção.
À sua criação, estadualização, reconhecimento, reforma acadêmica e tantos outros projetos, somam-se hoje a concretização de seu Campus, instalado em cenário bucólico, que se coaduna com os avanços de várias ações, fruto de ressignificações possibilitadas pelas trocas enunciativas. Dessa forma, através do fenômeno social da interação, a diversidade de saberes e os pontos de vista divergentes, (seja nos conselhos superiores - CONSUNI e CONSEPE, seja nos organismos sindicais, seja em encontros ou debates), promovem na instituição um intercruzamento de vozes, nem sempre harmônicas, mas que procuram estabelecer uma Universidade diferente porque se faz grande! Grande, não apenas em sua dimensão espacial. Grande por tornar-se, acima de tudo uma Universidade que pensa. Pensa dialogicamente a caminho de ações coletivas e porque plurais tendem a acertar.
É essa diversidade de vozes que instaura a instância geral da enunciação institucional que assume a responsabilidade do dizer e do fazer. A polifonia coexistente, através da heterogeneidade discursiva dos que fazem a UEPB, constrói, de verdade, uma nova Universidade que busca sua coerência pragmática.
Orgulhamo-nos de fazer parte desse todo que "abre os braços à sociedade que a mantém". Necessário se faz, portanto, que continuemos dando nosso contributo na edificação dessa entidade, que se firma a cada dia, em sua tríplice função de ensino, pesquisa e extensão. Assim, como afirma Raduan Nassar, "a justa medida do tempo dará a justa agudeza das coisas".

Campina Grande, 09.06.2002

Memorial: um gênero em circulação

A produção textual tem se caracterizado como uma atividade processual que exige do escrevente múltiplas capacidades e domínios específicos. Cada texto, por sua vez, apresenta problemas de escritura distintos, tendo em vista a sócio-construção dos vários modos de discurso escrito, ou seja, gêneros, visto nos moldes bakhtinianos (ROJO, 1999). O gênero memorial insere-se nessa coletânea de "formas de dizer sócio-historicamente cristalizadas oriundas de necessidades produzidas em diferentes escalas da comunicação humana" (BAKHTIN, 1929) e tem circulado socialmente como práticas de ensino-aprendizagem e da progressão curricular.
Com base nesses pressupostos teóricos, investigamos como os professores de ensino fundamental, em curso de Formação em Serviço (PROFORMAÇÃO) têm desempenhado a proposta de produção de memorial, como um dos aspectos determinados nos critérios de avaliação.
Nesse sentido, o memorial, enquanto comanda de atividade de produção que registra as reflexões do professor cursista sobre o processo que ele está vivenciando no curso, é o espaço de enunciação da construção de identidade profissional do professor cursista, durante o processo de ensino-aprendizagem. É, ainda, o relato das adaptações e modificações que o professor cursista vai fazendo no percurso de sua prática, refletindo sobre os vários momentos do curso e sobre sua própria ação.
São perceptíveis as mudanças na prática pedagógica dos professores cursistas, além de se verificar o prazer com que esses professores constatam suas mudanças. Ao nosso ver, são essas formas de dizer sócio-históricas que oportunizam esse mergulhar em suas ações cotidianas, que vão além dos aspectos estruturais da produção escrita, favorecendo os processos de produção e compreensão.
Nossas reflexões apontam para algumas considerações. Apesar dos percalços desse caminhar, acreditamos no crescimento do professor cursista nesse processo de construção, tendo em vista que "todo texto inscreve-se no quadro das atividades de uma formação social, ou seja, no quadro de uma forma de interação comunicativa que implica o mundo social e o mundo subjetivo" (BRONKART, 1993, p. 93).
Dessa forma, o papel social que o professor cursista desempenha nessa comanda de atividade de produção, lhe dá o estatuto de enunciador e, por conseguinte, de agente-produtor. O memorial é, portanto, um gênero textual em circulação social, elaborado pelo cursista de forma gradual e progressiva, que contém acertos, avanços, vitórias e, também, paradas, reflexões e dúvidas.
Valorizar as concepções dessa modalidade do gênero relatar e promover o intercâmbio dessas experiências, entre os participantes do Programa, é nosso dever.

Texto publicado no Jornal da PROIDE-UEPB.
Campina Grande, 2001.

Discurso de resistência

A FACMA foi cenário de algumas experiências vivenciadas em minha vida profissional e não são poucos os laços que me unem a essa entidade. Elos afetivos, intelectuais, profissionais e culturais formam a corrente que me "amarram" a ela e aos que constituem o seu corpo diretivo. Razão por que sou testemunha de sua trajetória penosa para se manter diante das intempéries que tem atravessado.
No entanto, não quero falar aqui do discurso da falência e da inanição por falta de oxigênio monetário dos que fazem o poder público. Prefiro retomar o discurso da memória, que me traz boas lembranças, e o de resistência que faz com que a FACMA continue de pé, reagindo e resistindo... Lembro-me, pois, da FACMA nos idos de 1986, louvando Manuel Bandeira por ocasião do seu centenário. Vivenciei com outros colegas na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, uma das mais gratificantes experiências, como presidente em exercício da FACMA àquela época. Tive a oportunidade de falar naquela egrégia casa dirigida por Austregésilo de Athaíde e vibrar com os aplausos dirigidos ao nosso canto coral que se apresentava naquela ocasião.
Vale a pena, também, relembrar os projetos e planos de ação dos Núcleos que consolidam a tessitura dos matizes operacionais da FACMA, iniciados na década de noventa. E não são poucos... Só para citar alguns, vislumbro a eficiência do "Memórias de Campina", o brilhantismo do "FACMA dança na rua", a eficácia do "Missão e Cidadania", o fazer gostoso do "Cadeira de balanço", entre tantos, que não me arrisco a nomear sem o exercício da pesquisa.
Éjusto, portanto, que ao comemorarmos os trinta anos da FACMA, somemos esforços, multipliquemos ações, diminuamos problemas e dividamos tarefas, colaborando fraternalmente com a instituição cultural pioneira de Campina Grande. Dessa forma, estaremos cultuando o discurso da memória, insistindo no discurso da resistência e firmando, prioritariamente, o discurso do porvir: Que sejamos todos, enfim, professores, políticos, artistas, poetas e intelectuais, a busca do que será.

Texto publicado no Jornal da Paraíba
Campina Grande, 31.05.2000.

Avaliação: Ajustes de contas ou instrumento de interação?

Os cursos de capacitação dos alfabetizadores do Programa de Alfabetização Solidária têm se constituído em oportunidade ímpar para ampla reflexão sobre o processo de ensino-aprendizagem. A avaliação compreendida como parte integrante e intrínseca desse processo se insere nesse contexto como ponto fulcral de nossas preocupações, especificamente, no que diz respeito aos aspectos de aquisição da linguagem escrita.
Constatamos que a "tarefa" de escrever na escola, com o objetivo de passar pelo crivo do professor, provoca no aluno o temor de ter que ser avaliado e as avaliações não têm se revelado como instrumento de ajuda na promoção do crescimento desse usuário da língua. Registramos vários depoimentos de alfabetizadores, após discussão sobre avaliação, e não nos surpreendeu verificar que as experiências relatadas por esses professores traziam às suas lembranças marcas de avaliações feitas, mais em termos de sentenças do que de conteúdos, em que o professor coloca-se não como um parceiro ajudando a construir o conhecimento, porém como um juiz implacável que dita comportamentos lingüísticos, sem considerar a intenção do aluno. Este é visto como um aprendiz que está passando pelo "sistema de apropriação" de saberes para ingressar numa sociedade de discurso (PAIVA, 1997). O professor é aquele que ensina porque sabe, mostrando que o repertório conceptual lhe pertence.

Relato 01- " (...) Ele era um professor que traumatizava os alunos, dizendo que só ele sabia e que tinha prazer em reprovar." (Alfabetizadora- Capacitação janeiro/2000).

Essas práticas demonstram o desconhecimento de que o aprendizado se constrói e se dá no confronto de saberes diferenciados em relação dialógica. O "erro" é visto como uma falta irrecuperável, culminando com o juridismo relativo às normas e coerções centradas na pasteurização da superfície lingüística.

Relato 02- (...) meus cadernos eram marcados com traços, interrogações, e muitas vezes, com um X grande na página inteira, sem nenhuma explicação. Até hoje, tenho complexo de escrever."
( Alfabetizadora- Capacitação janeiro/2000).

Vemos que a prática tradicional de marcações de irregularidades do texto, de forma unilateral, com o professor apontando e corrigindo os "erros", continua superando a concepção enunciativa/constitutiva da linguagem. Nesse sentido, o " erro" não é visto como tateio cognitivo que o indivíduo percorre na busca de relações entre o que ele já domina e o que está aprendendo. O "enfoque higienizador" da linguagem desencadeia um processo de "apagamento das cenas enunciativas" (JESUS, 1995), sem que seja levada em consideração a existência dos diferentes usos da linguagem, em diferentes instâncias e por grupos sociais diferenciados.
É preciso, pois, que tenhamos a consciência de que o "erro" precisa ser analisado historicamente, uma vez que se refere à construção e/ou enunciação da linguagem. Ao professor de língua compete, ao avaliar, considerar estes aspectos, levando em conta que numa sociedade altamente diversificada, produzem-se também recursos expressivos distintos e que intervenções pedagógicas eficientes poderão ajudar os alunos no processo de aquisição da linguagem, superando modelos de avaliação como ajuste de contas, para transformá-la em instrumento de interação social.

Texto publicado no Jornal PROEAC
Campina Grande, 2000.

Aula da saudade!

Vários são os conceitos de saudade... No dicionário, saudades é uma lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las... Para os poetas a "saudade" é traduzida de maneira nostálgica, com linguagem figurada e até de forma suave e doce. Saudade é vontade de ver de novo... Nesse sentido, sentimo-nos alegres por termos sido escolhida para ministrar a aula da saudade. E o que dizer a vocês neste momento, se são vocês próprios os grandes mestres, hoje, pois com luta e garra superaram obstáculos e galgaram êxito nessa caminhada?
Procuro imagem, comparações, palavras vindas do coração como água brotando da rocha para parabenizar vocês que provaram que ter ou não ter, ser ou não ser depende de cada um de nós. E para tanto, voaram alto, cataram estrelas no céu fazendo da esperança uma âncora para realização de seus objetivos.
Mas, como diz o poeta "onde um caminho termina, o outro talvez nem começou. A via permanece aberta e inesgotável a todas as experiências. ao outro não se pergunta aonde vais, mas tão somente aonde queres ir". Pessoa alguma logra vencer, se não aceita desafios para aquisição de valores imperecíveis que dão sentido à nossa existência.
E a educação é um desses valores que vista em seu vôo mais livre é uma fração da experiência endoculturativa. Nesse sentido, temos certeza de que vocês não pararão por aqui. Irão continuar a caminhada e daqui a mais três anos estaremos comemorando o término do curso superior, pois como disse Paulo Freire "A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa, que não é possível ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito". Isto significa que é possível a realização dos nossos sonhos, pois "Tudo podemos n'Aquele que nos fortalece".
Sejam felizes e tenham como lema o dever de ensinar aprendendo, perseverando no ideal, sem se considerarem donos da verdade, pois nossa tarefa é ampliar horizontes se olhar para trás, nem esperar recompensas.
E finalizando, convido vocês para refletirem sobre este texto como mensagem final.

Devagar e sempre

Na vida, as coisas às vezes andam muito devagar.
Mas é importante não parar. Mesmo um pequeno avanço
na direção certa já é um progresso, e qualquer um pode
fazer um pequeno progresso.

Se você não conseguir fazer alguma coisa grandiosa hoje,
faça alguma coisa pequena. Pequenos riachos acabam convertendo-se
em grandes rios. Continue andando e fazendo. O que parecia fora de alcance esta amanhã vai parecer um pouco mais próximo ao anoitecer, se você continuar movendo-se para frente. A cada momento intenso e apaixonado que você dedica o seu objetivo, um pouquinho mais você se aproxima dele.

Se você pára completamente, é muito mais difícil.
Começar tudo de novo. Então continue andando e fazendo. Não desperdice a base que você construiu. Existe alguma coisa que você pode fazer agora mesmo.
Hoje neste exato momento. Pode não ser muito mas vai mantê-lo no jogo.

Vá rápido quando puder.
Vá devagar quando for obrigado.
Mas, seja lá o que for, continue.
O importante é não parar.

Ralph Marston


Conclusão do PROFORMAÇÃO - Queimadas
Campina Grande, dezembro/2000

Oficina de produção textual: um fazer prazeroso

O Departamento de Letras, comungando com as propostas da Reforma Acadêmica da UEPB, dinamizou os Cursos de Extensão dando novos direcionamentos metodológicos em sua operacionalização. Engajamo-nos nesse projeto como professora de Produção Textual. Para tanto, procuramos nos munir de estratégias que pudessem propiciar aos participantes do projeto (Oficina de Produção Textual) situações de criação e formas de avaliação desse percurso criador.
Conforme Garcia (1990), a palavra "oficina" sugere algumas idéias que compõem a sua definição: trabalho, vida, mudança, transformação, processo, conserto, reparo, montagem, elaboração, criatividade, novidade, ação, renovação... É um modo de trabalhar que se opõe à aula tradicional, de forma que o produto e o processo componham uma unidade dialética, sem deixar de lado o componente prazer que, por sua vez, gera um clima de crescimento e auto-confiança.
A essas características da "oficina", acrescentamos conhecimentos outros que têm redimensionado o ato de escrever, ou seja, a produção de texto como resultado de uma construção que se processa na interação. Nesse sentido, a produção do texto tem sido vista como um momento posterior à sua elaboração, oportunizando o processo de refacção (FIAD e MARINK-SABINSON, 1991; GERALDI, 1996). Investe-se, assim, no potencial do escritor e no processo da refacção, vendo a escrita numa perspectiva global, efetivando mudanças que reordenam o todo ou atingem segmentos do discurso.
Nessa Oficina de Produção Textual, trabalhamos com uma clientela especial: professores da UEPB e da equipe da SEC do município. Partimos, então, da prática de cada um em seu cotidiano e produzimos textos levando em consideração a noção de gêneros do discurso (BAKHTIN, 1997) que incorpora elementos da ordem do social edo histórico, a situação de produção de um dado discurso e seus modos de dizer.
A Oficina de Produção Textual favoreceu a integração entre práticas de leituras, escritura e análise lingüística fazendo com que os conhecimentos partilhados fossem utilizados na construção de novos saberes e proporcionassem um fazer significativo.

Texto publicado na Scriptus
Campina Grande, 1999.

Letras e seu campo profissional

Segundo matéria publicada no Caderno FOVEST 94 da Folha de São Paulo, de 04/10/93, Letras é um dos cursos superiores mais lembrados pelos vestibulandos, no entanto, está entre os menos conhecidos. Pesquisa feita com alunos de dezessete colégios particulares de São Paulo aponta que secundaristas têm poucas informações sobre a carreira. Os estudantes desses colégios não sabem que "um curso de Letras tem um campo de atuação tão vasto quanto o uso da língua".
No dizer de José Eduardo Baraveli (autor do artigo) o curso de Letras perde apenas para Medicina, Direito e Administração, carreiras tradicionais, ao mesmo tempo mais lembradas e mais conhecidas, conforme dados da pesquisa grupo guia do Estudante.

O principal erra dos estudantes, ao que diz respeito ao desconhecimento do Curso de Letras, este em achar que Letras restringe o campo de atuação apenas ao magistério, como pensa Valéria Rizzo, que diz querer fazer Letras para dar aulas, "já que é a única coisa que dá para fazer com o diploma". Para ela, "falar bem uma língua só pode dar dinheiro quando você ensina esta língua para alguém".
Puro engano da srta. Valéria. Além de professores, o curso de Letras forma profissionais para editoras, publicações periódicas, pesquisadores, tradutores, intérpretes e revisores de textos. Em qualquer lugar onde a língua for uma prioridade, de comércio exterior à produção de textos, lá o graduado em Letras será bem recebido.

Necessário se faz, portanto, que divulguemos as possibilidades funcionais do licenciado em Letras, para que os candidatos que procurem tal curso saibam realmente por que querem fazê-lo.
Pensando assim, é que a Coordenação do curso de Letras da UEPB - Campus I, engajou-se ao Núcleo de Orientação Pedagógicas - NOP (do Curso de Pedagogia), para orientar o candidaato ao vestibular da Rede Oficial de Ensino. Em encontro realizado no Colégio Estadual da Prata (out/93), foram dadas todas as informações necessárias com o objetivo de alertar o candidato ao Curso de Letras, sobre o leque de opções profissionais que o Curso poderá oferecer.
Oportuno, também, que se esclareçam as especificidades do Curso de Letras da UEPB, Campus I, resumindo-se neste pequeno histórico. O curso de Letras, reconhecido pelo Decreto Federal nº 45820, de 16/04/75, confere o grau de Licenciatura Plena nas habilitações: Língua Portuguesa e Literatura, Língua Francesa e Literatura e Língua Inglesa e Literatura, sendo oferecidas oitenta vagas (quarenta para o primeiro período e quarenta para o segundo).
O curso tem como objetivo fornecer a seus alunos a formação humanística, científica, cultural e pedagógica necessárias à compreensão e integração com a realidade do mundo atual, bem como ser o instrumento teórico e metodológico indispensável ao exercício de suas atividades profissionais.
Em nível de pós-graduação lato sensu, são oferecidos Cursos de Especialização, encontrando-se, também, em nível strictu sensu, a implantação do Curso de Mestrado em Leitura, Produção de Textos e Literatura Marginais, em tramitação nas instâncias superiores da Universidade, já aprovado pelo CONSEPE, faltando apenas, sua aprovação no CONSUNI, para a estruturação definitiva da sua funcionalidade.
Um laboratório de Línguas, destinado especificamente ao estudo de idiomas estrangeiros, faz parte da estrutura do Curso, desenvolvendo, dessa forma, a capacidade de compreensão auditiva e aperfeiçoamento dos estudos fonéticos.
O curso de Letras da UEPB - Campus I conta, ainda, com duas atividades permanentes em forma de Projetos: o ciclo de Estudos Lingüísticos e Literários - CELL e o Literatura em Murais - LITEM, aglutinadados, recentemente, pela criação do Núcleo de Investigação, Pesquisa e Estudos Lingüísticos e Liaterários - NIPELL, no intuito de oportunizar aos professores o desenvolvimento de pesquisas, assim como aos alunos, o apoio indispensável para a iniciação científica.
Como se vê, vasto é o campo profissional do Curso de Letras e inúmeras as possibilidades de atuação para os graduados que fizeram opção.

Texto publicado na Revista Scriptus
Campina Grande, 1994.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Porque o aluno não fala

O bloqueio verbal do aluno se dá em conseqüência de vários fatores: repressão da família, escola fora da realidade, medo da censura, por não ter o que dizer, entre outros.Se o aluno não tem o que dizer, se não sabe o que dizer, obviamente se sentirá inseguro. E é esta insegurança que, também, o faz calar diante dos outros. Estabelece-se, assim a " cultura do silêncio". No dizer de Suzana Felipe, "o pensar, o sentir, o agir, de forma autêntica, que conduzem à vida, foram substituídos pelo produzir, pelo armazenar, pelo aparentar, que conduzem a um distanciamento de nós mesmos à anti-vida". Sentimos em toda parte a insatisfação, o conflito, a ansiedade. Nesta vida comparativa, a insegurança está presente e como atitude de defesa, muitos se isolam ou se calam.
Sem dúvida, somos nós, professores, os maiores responsáveis pelo silêncio, ocasionado em nossas salas de aula. Temos a incubência
de incentivar nossos alunos para que a motivação se instaure. O verdadeiro educador sentirá prazer de fazer isto. "Impossível ter-se experiência do prazer da criação e não tentar passá-lo para os outros, não compartilhar a sonora gargalhada que explode pelos corpos tensos dos nossos jovens alunos, transformando-os e nos transformando em pessoas capazes de renovar, de criar, de FALAR".
De suma importância que criemos nos nossos alunos o desejo de "ser mais". Esta busca do SER MAIS, porém não pode realizar-se no isolamento, no individualismo, mas na comunhão, na solidariedade dos existires, como diz Paulo Freire. Só assim, professor e aluno conquistarão dentro de seus espaços, a realização dos seus objetivos. Só assim, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo, superando o intelectualismo do educador "bancário" e também da falsa consciência do mundo.
Indispensável que sejamos desafiadores, pois "o desafio é fundamental à constituição do saber". Mas, muitas vezes o professor, "não quer correr o risco da aventura dialógica, o risco da problematização, e se refugia em suas aulas discursivas, retóricas, que funcionam como se "fossem canções de ninar."
Instalada em nossa mente que só a Educação dialógica é a prática da liberdade devemos partir para a concepção de que a dialogicidade deve começar "não quando o educador-educando se encontra com os educando-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes. Tomada esta posição, o aluno terá a liberdade de expressão, o direito à palavra. E a libertação, segundo Paulo Freire, é um parto que faz do homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.
Para nós, a conscientização de que da liberação da palavra surge a possibilidade de ser menos repetidora de regras, menos intermediária de ordens...

Texto publicado no Jornal da Paraíba
Campina Grande, 24.08.86

Saudação à turma concluinte de Letras - semestre 96.2

Caros formandos!

Cecília Meireles em, um dos seus poemas-canção diz:

"De que são feitos os dias?
-De pequenos desejos
Vagarosas saudades
Silenciosas lembranças"

E eis nestes versos a confirmação dos "desejos" de crescer e aprender que os moveram até então, de "vagarosas saudades" que lhes inundam hoje os corações e "silenciosas lembranças" que os acompanharão, certamente, por longo tempo.
E eu diria, que ao desejo de crescer e aprender deve somar-se o de ensinar, pois aprender e ensinar ou ensinar e aprender estão irremediavelmente ligados pelo desejo e pela paixão.
Portanto, a procura do mundo letrado, a procura do conhecimento é a busca da ressignificação que dê sentido ao eterno interrogar-se, que dê sentido à existência humana - razão de ser do homem do "estar no mundo".
Esse conhecimento adquirido, porém, só poderá ser redimensionado se o colocarmos à disposição do outro.
Sejam, portanto, semeadores do saber e plantadores de sonhos, mesmo que "o sonho tenha margem de nuvens rápidas".
Como diz Cristo nas suas bem-aventuranças
"Felizes os que sonham, pois alimentarão a esperança de muitos e correrão o doce risco de ver, um dia, seus sonhos concretizados".

Que, se necessário, vocês possam plagiar a poeta e dizer convictos:
"Procurarei no céu a indicação de uma trajetória" e Chorarei quando for preciso/ Para fazer o mar crescer". Mas, contanto que tenham a consciência do dever cumprido.
Com certeza, onde um caminho termina, o outro talvez nem começou. Entretanto, a via permanece aberta e inesgotável a todas as experiências e vocês serão capazes de prosseguir a escalada, colimando os ideais possíveis e prováveis da profissão que escolheram.
Que Deus os abençoe.

Campina Grande, 05.12.96

A conotação na linguagem popular

"A linguagem é o modo privilegiado de comunicação na sociedade". A linguagem é fundamental nas relações sociais e sua origem está ligada à própria origem da sociedade.
A linguagem é, ainda, um princípio de cultura, de elaboração e de interpretação, transformando-se no capital cultural portador do conjunto de conhecimentos e das práticas da sociedade. Desse modo, fecha-se uma nucleação cultural integrada ao sistema social.
A linguagem reserva um espaço privilegiado para seus utentes, ou seja, o campo da conotação. E não somente os estudiosos ou "entediados" da linguagem utilizam esse espaço. Na linguagem popular os aspectos conotativos são ricos e originários, pela razão, talvez, de que as outras linguagens são por ela, irremediavelmente atravessadas. A linguagem popular cria. É uma semente que pode germinar, e nesse sentido, cultiva. E se cultiva, também produz, e se produz, gera o novo, mudando a ordem das coisas, isto é, ensejando a própria conotação.
As criações populares são, em alguns casos da língua, de autores anônimos; são, às vezes, maneiras de dizer a língua, de modo preciso e pitoresco como formas de expressão direta que atingem o alvo procurado, mostrando uma filosofia sólida, nascida da experiência e da vida.
A linguagem popular na diversidade do uso da palavra a faz polivalente, conotativa, polissêmica, mostrando os mais ricos traços da fala humana. E o homem na fertilidade de sua imaginação, usa muitas vezes de seu poder criador para fazer trovas, quadrinhas etc, como no exemplo a seguir:

"Lá vai a garça voando " Até nas flores se vê
Com as penas qu Deus lhe deu O destino e a sorte
Contando pena por pena Umas enfeitam a vida
mais pena padeço eu" Outras enfeitam a morte"


As palavras usadas conotativamente têm valor ontológico, por isso, não são simples objeto de uso, simples meio de comunicação...
Inúmeros são os textos populares impregnados de conotações que na simpicidade dos seus autores mostram a riqueza da linguagem popular. São sinais eloqüentes de que sintonias são formadas, oferecendo elementos recreativos ao espírito, ensejando o exercício da interpretação e contribuindo para o registro do prodígio da língua. Linguagem que poderia ser interpretada como sinos da alma - sinal eloqüente da sensibilidade de um povo.
"Sino - coração da aldeia
Coração - sino da gente
Um a sentir quando bate,
Outro a bater quando sente"

Desta forma, está comprovado que o homem ao exprimir a sua filosofia, o seu saber experimentado, as suas mágoas, receios ou alegrias em face do mundo que o circunda, CONOTA profundos traços de sabedoria e de ciência.

Publicado na Revista Scriptus
Campina Grande, 1994.

Um sonho coletivo

Segunda-feira. Seis de junho. Tarde fria na serra da Borborema. Reunidos na sala do "Velho Anita Cabral", aquecia-nos o desvendar das teorias cálidas das Literaturas Marginais. Teresa Otranto desfiava competentemente a "poética dos Mangues" deChico Science e a "Metáfora da Malandragem" de Raul Seixas. Goretti Ribeiro explanava com deslumbramento o realismo grotesco das "Aventuras de Pedro Malasarte", à luz bakhtiniana. Sala cheia de espectadores que saboreavam ávidos as delícias do aprender e o descortinar das teorias aplicadas nos córpora em análise.
Naquele ínterim, penetrávamos nas reflexões de um monólogo interior: Como negar a existência de um mestrado que se impõe por si mesmo na realização de Seminários tão brilhantes, coordenados com maestria pela batuta da Drª Elizabeth Marinheiro, em sua disciplina Literaturas Marginais? Como calar as descobertas inteligentes dos alunos de lteratura Nordestina Contemporânea tão bem orientadas pela Drª Maria do Socorro Oliveira, enfatizando o obsoletismo dos Códigos frente ao continuun tipológico de textos? Como ofuscar os anteprojetos tão bem encaminhados nas iluminadas aulas de Metodologia da Pesquisa Científica da Drª Maria Auxiliadora Bezerra? Como obscurecer os percursos gerativos de sentido, eficientemente abordados nas aulas de Semiótica Textual do Dr. Sebastien Joachim? Como ocultar o ecletismo, excelentemente capitaneado das Histórias das Idéias do Dr. José Otávio? Como obliterar, enfim, os fatores de textualidade tão bem explicitados pela Drª Marinalva Freire?
Não! Efetivamente impossível! Não podemos retroceder no tempo. Não se pode anular uma conquista. "Sonho que se sonha só é um sonho que se sonha só". Porém, nosso sonho é coletivo! E "sonho que se sonha junto é uma realidade". Uma realidade acalentada há quatro longos anos. O realismo grotesco não nos espanta, nem nos assusta. Assim, como Chico Science saiu dos mangues para "as cenas da cidade", o nosso
Mestrado em Produção de Textos e Literaturas Marginais ocupará o seu merecido lugar. Assim confiamos. Assim acreditamos!

Dimensão - Revista Internacional de Poesia

Dimensão é uma "publicação aberta a todos os poetas, desde que sua obra esteja de acordo com a linha editorial de modernidade, contenção verbal, rigor, elaboração da linguagem e/ou pesquisa, experimentação e criação de novas linguagens". Inicialmente, vem com uma explicativa sobre a "Finalidade da Arte" enfatizando a posição da arte no contexto social, ressaltando as "duas concepções opostas, irreconciliáveis: a arte vista em si e por si mesma, como produto estético, e a arte entendida como expressão do ser humano, com multiplicidade de objetivos e funções, entre os quais, também o estético". Em seguida, a revista é organizada em seções cujo teor versa sobre:

  • Poemas em textos, ou seja, poemas pós-modernistas, considerados "concretos" por centralizarem-se na palavra como coisa, num procedimento antidiscursivo. Dessa forma, seus autores valem-se "da fragmentação de palavras, da associação de vocábulos pela aproximação fônica, atomizam partes do discurso, rompem com a sintaxe tradicional, desintegram os vocábulos em seus morfemas explorando o ludismo sonoro e o branco da página..."
  • Visuais, isto é, poemas chamados "processo" por instaurarem uma nova codificação para o texto, a partir do "processo" e não das palavras, o que resulta numa nova linguagem. Confere-se, assim, ênfase ao projeto e sua visualização. Como dizem seus autores "a palavra pode ser ou não usada, não se trata de um elemento indispensável."
  • A insurreição do neo-branco mostrando que o movimento não é uma "escola", não possui princípios normativos como o verso livre ou as "palavras em liberdade" e que o seu ponto de contato com a Modernidade está na metalinguagem.
  • Seção especial ressaltando "La poesia experimental uruguaya" de cunho pós-modernista, cujas tendências se valem dos últimos recursos da técnica, no que diz respeito à "multimidia".

Como vimos, "Dimensão" é uma revista que extrapola os parâmetros dos "já ditos" para se revelar à liberdade plena de criação e à multiplicidade sígnica.

Campina Grande, 15.11.95

Campina Grande - Pólo de Cultura

Chegou setembro! E com ele os Congressos Literários, Campina Grande abriga centenas de literatos, jornalistas, professores e poetas que se amalgamam nos palcos do Serevino Cabral em somatórios sucessivos de discursos, os mais salutares. No ecletismo de sua programação, os Congressos de Campina (como são conhecidos) viabilizam desde o estudo do romance paraibano, à análise do poema "Relógio" de Cassiano Ricardo, às alegorias em Augusto dos Anjos ou a linguagem poética contemporânea da publicidade. É a poesia, tradicionalmente circunscrita como discurso intimista e subjetivo, estudada e analisada na sua mais recente vertente - a poesia multimídia; o computador, como mídia de criação poética. São as novas formas de leituras, a partir das possibilidades de transcodificação simultânea. São os quadrinhos e a literatura sob o olhar crítico de Moacyr Cirne (RJ), chocando a todos com a sua irreverência; a marginalidade literária propriamente dita... A leitura intersemiótica entre o texto verbal e o texto cinematográfico no intercruzamento sígnico é mostrada por Maria Luíza Coelho (Holanda). Enquanto isso, Helder Pinheiro (PB) faz seu "passeio mítico" com Mário Quintana, e Geralda Medeiros (PB) ressalta os temas polêmicos e a "linguagem proibida" de Hermilo Borba Filho, entre tantos outros temas abordados e discutidos.
Entretanto, "a festa da palavra" não se restringe aos palcos do Severino CAbral. O discurso pluralizante continua nas ruas, nas praças, na feira...
Intelectuais e poetas transitam soba a indeferença de uns ou o olhar atônito de outros... A beleza de Márcia Navarro (RS) suscita metáforas! Domício Proença Filho (RJ) já não tematiza, apenas, a poesia brasileira, contemporânea, mas também, o lirismo incomum das coisas simples, fruindo a "palavra na construção do homem". Vera Casa Nova (MG) recupera discursos anteriores no colorido da rede que embalará os sonos do amado, enquanto Campina se avulta aos olhos dos que a contemplam.
Os Congressos já são saudades! No entanto, temos certeza, de que outros setembros virão e serão aguardados como "crisálidas da esperança às vésperas de voar". E Campina, fará a renovação do Festim. A palavra será, mais uma vez, clareira que iluminará mentes e alimentará espíritos, por seres tu, CAMPINA, PÓLO DE CULTURA.

Texto publicado no Diário da Borborema.
Campina Grande, 11.10.94

Mensagem para Graziela

Cara Graziela.

O grande D. Helder diz: "Não deixe que emudeçam seus sinos d'alma! Descubra pessoas amigas cujos sinos interiores se somem, se completem, se harmonizem..."

Nós que fazemos a ABS/Regional de Campina Grande, descobrimos você como amiga ideal para fazermos essa junção "somando sinos interiores" numa profusão de alegria para cantar-lhe parabéns.
Diz ainda D. Helder que "há corações tão vazios, tão sem amor, que flutuam, como penas ao vento: não chegam a subir, porque qualquer sopro os arrasta para longe..." Com você é diferente! Você é tradução de AMOR, de otimismo, de FÉ, comunicação, de solidariedade, de jovialidade; porque "ser jovem é amar a vida, cantar a vida, abraçar a vida... é ser aberto para o nosso respeito e imutável... é beber um lindo pôr do sol, ar livre e noites estreladas... é ter os os olhos molhados de esperança... é realimentar o entusiasmo, o sorriso, a esperança, a alegria a cada amanhecer... é amar a simplicidade, o vento, o perfume das flores, o canto dos pássaros... é misturar tudo isso com a idade que se tenha... com uma profunda e permanente vontade de SER" (Arthur da Távola).
Parabéns - Graziela. Não diremos mais palavras para externar-lhe o nosso carinho. Nem sempre as palavras dizem tudo. Preferimos calar-nos, pois "os maiores tumultos dentro de nós se dão em horas de lábios cerrados!"
Deixemos que as rosas falem por nós, no imensurável de sua beleza, suavidade e perfume, sendo portadores da nossa desmedida estima e admiração.

Em nome da Associação de Semiótica.
Campina Grande, 20.03.88

domingo, 13 de abril de 2008

A ciência dos significados na ação pedagógica

Sabemos que os sistemas tradicionais do ensino fundamentam sua metodologia na comunicação verbal. Os propósitos e fins da escola tendem a adaptar os indivíduos ao mundo social mediante a aprendizagem do saber fazer verbal. À força de conceituar e conceituar e sistematizar a ciência, também fomos reduzindo os valores a meras verbalizações.
O “saber fazer” proporcionado pela escola é fundamentalmente lingüístico; são fórmulas, regras, normas... Um exame objetivo da realidade escolar nos provaria como nos preocupa, essencialmente, o conhecimento cognoscivo, desconhecendo os aspectos afetivos, emocionais, intuitivos e cinéticos.
A linguagem abrange não somente os signos lingüísticos, mas também, os signos iconográficos, os sons, a expressão corporal, a exploração sensorial, enfim, parte do princípio de que linguagem é toda e qualquer organização textual que serve como meio de interação social.
É preciso, pois, que se dê ênfase aos estudos semióticos, a fim de oferecer instrumentos necessários que defendam os educandos contra a massificação e mitificação tão característica de quem consome técnicas de comunicação, de forma passiva. Valendo-se da semiótica e da criatividade, o homem reduzirá as probabilidades de ser um mero objeto, à mercê de forças externas e aumentará como sujeito a viabilidade de dominar essas forças, permitindo-lhe ser um “consumidor” perceptivo, inteligente, seletivo, e crítico.
Não sendo assim, a massificação será causada, pois o homem será capaz de ler outros signos, além dos signos lingüísticos. Como afirma Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade daquele”. O ato de ler começa quando, por meio de nossa percepção, tomamos consciência do que os signos do mundo evocam ou sugerem.
A linguagem, numa perspectiva global, a comunicação “Kinésica” nos colocam no caminho direto para o estudo da linguagem da ação.
As novas linguagens nos evidenciam que comunicar-se não consiste somente em transmitir idéias, mas sim, em oferecer novas formas de ver as coisas, influenciando e até, modificando os significados ou conteúdos.
A linguagem, em sua essência mais profunda, é uma linguagem total no maior sentido humana que se possa dar. A linguagem humana exige que todo ser humano interaja. A interação é para o ser humano uma forma de realizar-se, de constituir-se, de completar-se.
A ciência dos significados na ação pedagógica procura fazer com que se descubra, na “práxis”, o conhecimento e o manejo da linguagem verbal, associada harmoniosamente a todas as outras linguagens de que dispomos.

Texto publicado no Jornal Expressão. Grafite Editoria e Marketing. No 05. dezembro/1992.