A produção textual tem se caracterizado como uma atividade processual que exige do escrevente múltiplas capacidades e domínios específicos. Cada texto, por sua vez, apresenta problemas de escritura distintos, tendo em vista a sócio-construção dos vários modos de discurso escrito, ou seja, gêneros, visto nos moldes bakhtinianos (ROJO, 1999). O gênero memorial insere-se nessa coletânea de "formas de dizer sócio-historicamente cristalizadas oriundas de necessidades produzidas em diferentes escalas da comunicação humana" (BAKHTIN, 1929) e tem circulado socialmente como práticas de ensino-aprendizagem e da progressão curricular.
Com base nesses pressupostos teóricos, investigamos como os professores de ensino fundamental, em curso de Formação em Serviço (PROFORMAÇÃO) têm desempenhado a proposta de produção de memorial, como um dos aspectos determinados nos critérios de avaliação.
Nesse sentido, o memorial, enquanto comanda de atividade de produção que registra as reflexões do professor cursista sobre o processo que ele está vivenciando no curso, é o espaço de enunciação da construção de identidade profissional do professor cursista, durante o processo de ensino-aprendizagem. É, ainda, o relato das adaptações e modificações que o professor cursista vai fazendo no percurso de sua prática, refletindo sobre os vários momentos do curso e sobre sua própria ação.
São perceptíveis as mudanças na prática pedagógica dos professores cursistas, além de se verificar o prazer com que esses professores constatam suas mudanças. Ao nosso ver, são essas formas de dizer sócio-históricas que oportunizam esse mergulhar em suas ações cotidianas, que vão além dos aspectos estruturais da produção escrita, favorecendo os processos de produção e compreensão.
Nossas reflexões apontam para algumas considerações. Apesar dos percalços desse caminhar, acreditamos no crescimento do professor cursista nesse processo de construção, tendo em vista que "todo texto inscreve-se no quadro das atividades de uma formação social, ou seja, no quadro de uma forma de interação comunicativa que implica o mundo social e o mundo subjetivo" (BRONKART, 1993, p. 93).
Dessa forma, o papel social que o professor cursista desempenha nessa comanda de atividade de produção, lhe dá o estatuto de enunciador e, por conseguinte, de agente-produtor. O memorial é, portanto, um gênero textual em circulação social, elaborado pelo cursista de forma gradual e progressiva, que contém acertos, avanços, vitórias e, também, paradas, reflexões e dúvidas.
Valorizar as concepções dessa modalidade do gênero relatar e promover o intercâmbio dessas experiências, entre os participantes do Programa, é nosso dever.
Texto publicado no Jornal da PROIDE-UEPB.
Campina Grande, 2001.
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Memorial: um gênero em circulação
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