"A linguagem é o modo privilegiado de comunicação na sociedade". A linguagem é fundamental nas relações sociais e sua origem está ligada à própria origem da sociedade.
A linguagem é, ainda, um princípio de cultura, de elaboração e de interpretação, transformando-se no capital cultural portador do conjunto de conhecimentos e das práticas da sociedade. Desse modo, fecha-se uma nucleação cultural integrada ao sistema social.
A linguagem reserva um espaço privilegiado para seus utentes, ou seja, o campo da conotação. E não somente os estudiosos ou "entediados" da linguagem utilizam esse espaço. Na linguagem popular os aspectos conotativos são ricos e originários, pela razão, talvez, de que as outras linguagens são por ela, irremediavelmente atravessadas. A linguagem popular cria. É uma semente que pode germinar, e nesse sentido, cultiva. E se cultiva, também produz, e se produz, gera o novo, mudando a ordem das coisas, isto é, ensejando a própria conotação.
As criações populares são, em alguns casos da língua, de autores anônimos; são, às vezes, maneiras de dizer a língua, de modo preciso e pitoresco como formas de expressão direta que atingem o alvo procurado, mostrando uma filosofia sólida, nascida da experiência e da vida.
A linguagem popular na diversidade do uso da palavra a faz polivalente, conotativa, polissêmica, mostrando os mais ricos traços da fala humana. E o homem na fertilidade de sua imaginação, usa muitas vezes de seu poder criador para fazer trovas, quadrinhas etc, como no exemplo a seguir:
"Lá vai a garça voando " Até nas flores se vê
Com as penas qu Deus lhe deu O destino e a sorte
Contando pena por pena Umas enfeitam a vida
mais pena padeço eu" Outras enfeitam a morte"
As palavras usadas conotativamente têm valor ontológico, por isso, não são simples objeto de uso, simples meio de comunicação...
Inúmeros são os textos populares impregnados de conotações que na simpicidade dos seus autores mostram a riqueza da linguagem popular. São sinais eloqüentes de que sintonias são formadas, oferecendo elementos recreativos ao espírito, ensejando o exercício da interpretação e contribuindo para o registro do prodígio da língua. Linguagem que poderia ser interpretada como sinos da alma - sinal eloqüente da sensibilidade de um povo.
"Sino - coração da aldeia
Coração - sino da gente
Um a sentir quando bate,
Outro a bater quando sente"
Desta forma, está comprovado que o homem ao exprimir a sua filosofia, o seu saber experimentado, as suas mágoas, receios ou alegrias em face do mundo que o circunda, CONOTA profundos traços de sabedoria e de ciência.
Publicado na Revista Scriptus
Campina Grande, 1994.
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