Há algum tempo, para ser mais precisa, em 2001, apresentamos na XI Semana de Letras da Universidade Estadual da Paraíba um trabalho intitulado “Parece Cômico, se não fosse Trágico”. Naquela ocasião, discutia com meus pares, entre perplexidade e preocupação, as “criações” absurdas de alguns vestibulandos. Entre outras questões, refletíamos sobre a necessidade de se trabalhar a linguagem como uma construção social, resultado da interação humana que se atualiza na enunciação dialógica. Questionávamos, sobretudo, casos de inadequações discursivas, muitas vezes, tão visíveis no manejo usual da linguagem, mas lamentavelmente, tão imperceptíveis aos olhares de nossos alunos. Em recortes feitos de determinadas produções textuais sobre o tema “Desemprego”, colhíamos os seguintes fragmentos: “É preciso que o emprego seja uma fonte insecável...; “O mundo atual está vivendo um problema muito sério, ou seja, o trabalho...”; “Para o homem não se destruir é preciso está mais capacitado na sua área de trabalho, do contrário, o planeta fica desempregado...’, e, entre outros, são muitas as “pérolas” que faziam parte da nossa coleta de dados. Verificávamos, então, que esses e tantos outros enunciados analisados, além de incoerentes, tornavam-se hilariantes.
Para meu desencanto, seis anos são decorridos e a cena se repete. Desta feita, a internet divulga “As últimas do ENEM- Exame Nacional do Ensino Médio”. Revejo apreensiva que O CAOS CONTINUA... Afirmações estapafúrdias, tais como: “As estrelas servem para esclarecer a noite e não existem estrelas de dia porque o calor do sol queimaria elas...”. Conceitos equivocados, seguidos de argumentos inconsistentes, são outro exemplo que citaríamos: “A terra é um dos planetas mais conhecidos e habitados no mundo. Os outros menos demográficos são Mercúrio(...) e outros que esqueci e está na hora de entregar a provas. Mas tomara que não baixe a nota por causa disso porque esquecer a memória em casa todo mundo esquece um dia, não esquece?”. Circularidades fúteis, como “Os índios sacrificavam os filhos que nasciam mortos matando todos assim que nasciam...” e tantos outros enunciados que o espaço exíguo deste texto não comportaria.
Embora constatemos não haver problemas tão sérios com o domínio do código, verificamos que esses enunciados são frutos de sujeitos que passaram por uma escola que não lhes deu oportunidades para que eles participassem do “jogo” da escrita, assumindo a função de sujeitos-autores, do querer dizer e do saber dizer...
Fala-se tanto do perigo do uso da linguagem no computador, o “internetês”, mas em nenhuma das construções colhidas, verificamos a influência dos gêneros digitais na forma de escrever. Em contrapartida, em recente reportagem da Veja (16 /05/2007), a autora Sílvia Rogar afirma que nunca se escreveu tanto e que a escola é que precisa acompanhar essa tendência. Os próprios entrevistados depõem sobre o cuidado que têm quando da necessidade de usar a língua padrão. O perigo, pois, não reside aí... (Aliás, “pano pras mangas” para uma outra discussão, um outro texto).
Urge, portanto, acabar de vez com o silenciamento das relações intersubjetivas em sala de aula. Que se promovam ações concretas para a efetivação de uma cultura escrita proficiente. Que o PDE (Plano de Desenvolvimento para a Educação) seja uma realidade e que possa inverter esse cenário, cujos atores aproximam-se da comédia e da tragédia.
Campina Grande, 2006.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
O caos continua...
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