terça-feira, 15 de abril de 2008

Porque o aluno não fala

O bloqueio verbal do aluno se dá em conseqüência de vários fatores: repressão da família, escola fora da realidade, medo da censura, por não ter o que dizer, entre outros.Se o aluno não tem o que dizer, se não sabe o que dizer, obviamente se sentirá inseguro. E é esta insegurança que, também, o faz calar diante dos outros. Estabelece-se, assim a " cultura do silêncio". No dizer de Suzana Felipe, "o pensar, o sentir, o agir, de forma autêntica, que conduzem à vida, foram substituídos pelo produzir, pelo armazenar, pelo aparentar, que conduzem a um distanciamento de nós mesmos à anti-vida". Sentimos em toda parte a insatisfação, o conflito, a ansiedade. Nesta vida comparativa, a insegurança está presente e como atitude de defesa, muitos se isolam ou se calam.
Sem dúvida, somos nós, professores, os maiores responsáveis pelo silêncio, ocasionado em nossas salas de aula. Temos a incubência
de incentivar nossos alunos para que a motivação se instaure. O verdadeiro educador sentirá prazer de fazer isto. "Impossível ter-se experiência do prazer da criação e não tentar passá-lo para os outros, não compartilhar a sonora gargalhada que explode pelos corpos tensos dos nossos jovens alunos, transformando-os e nos transformando em pessoas capazes de renovar, de criar, de FALAR".
De suma importância que criemos nos nossos alunos o desejo de "ser mais". Esta busca do SER MAIS, porém não pode realizar-se no isolamento, no individualismo, mas na comunhão, na solidariedade dos existires, como diz Paulo Freire. Só assim, professor e aluno conquistarão dentro de seus espaços, a realização dos seus objetivos. Só assim, educadores e educandos se fazem sujeitos do seu processo, superando o intelectualismo do educador "bancário" e também da falsa consciência do mundo.
Indispensável que sejamos desafiadores, pois "o desafio é fundamental à constituição do saber". Mas, muitas vezes o professor, "não quer correr o risco da aventura dialógica, o risco da problematização, e se refugia em suas aulas discursivas, retóricas, que funcionam como se "fossem canções de ninar."
Instalada em nossa mente que só a Educação dialógica é a prática da liberdade devemos partir para a concepção de que a dialogicidade deve começar "não quando o educador-educando se encontra com os educando-educadores em uma situação pedagógica, mas antes, quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes. Tomada esta posição, o aluno terá a liberdade de expressão, o direito à palavra. E a libertação, segundo Paulo Freire, é um parto que faz do homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos.
Para nós, a conscientização de que da liberação da palavra surge a possibilidade de ser menos repetidora de regras, menos intermediária de ordens...

Texto publicado no Jornal da Paraíba
Campina Grande, 24.08.86

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