quinta-feira, 17 de abril de 2008

Descompromisso Crítico e Minimalismo Multicultural

Ao reler “Descompromisso crítico e minimalismo multicultural - exercícios em torno dos discursos”, da Professora Elizabeth Marinheiro, relembro a cena do lançamento desse livro, em Campina Grande-PB. Em monólogo interior, perguntei-me: o que acrescentar ao já dito pelo Professor José Mário, em magnífica apresentação? No entanto, vêm-me à mente os conceitos de Bakhtin e revejo com nitidez a existência da “multivocalidade” como marca característica dos discursos e redesenho o meu pensar. Reflito que os enunciados de cada discurso têm um percurso que faz com que carreguem a memória de outros discursos.
Releio, também, o autógrafo de Elizabeth, afirmando que “alguma palavra vinda (...) sobre este livro o deixará mais fortalecido.” Sinto-me encorajada! Os discursos da autora não me deixam calar. Calar verdades é ser cúmplice de injustiças. Calar verdades é, no mínimo, ser cúmplice de omissão... Não quero ser injusta. Não pretendo ser omissa.
É preciso, pois, registrar que o “outro” nos “exercícios em torno dos discursos” é constitutivo do sujeito e da linguagem. No dizer de Beth Brait, a autora “recupera o caminho bakhtiniano para a constituição de uma concepção de linguagem em que o dialogismo e a polifonia são alicerces necessariamente calcados” (...), resultando numa heterogeneidade discursiva.
Elizabeth parece eximir-se de ser a fonte do discurso e explicita a presença do “outro”, por meio do processo da “denegação”, instaurando a alteridade e delimitando o seu lugar para cirscunscrever o próprio território. E nesse “savoir-faire”, ao dividir seu espaço de interlocução, o sentido se subjetiva e o discurso multifacetado se revela.
Entretanto, nesse amálgama de enunciados e nesse jogo de produção de sentidos, meu olhar se volve para um texto em particular: “Última página?...”. Tomo as palavras da própria autora para falar desse texto: “O olhar se estende ao espaço epistolográfico para dizer o coração. Os estados do coração criam aquela voz que não se desvincula da vida. A inteligência sai da pena com forma de sangue, de lágrimas. De amor, saudade, comunhão.” (Das epístolas, p. 106). Este enunciado, por si só, ressignifica qualquer leitura do texto “Última página?...”.
É como se a autora voltasse ao palco da enunciação para encenar apoteoticamente as suas dores, as suas saudades, o seu viver... Porém, ao falar a linguagem do amor, na dimensão maior da plurissignificação, se instaura, paradoxalmente, uma presença/ausência, uma vez que a coexistência de si mesma e da outridade resulta numa enriquecedora confluência de discursos.

Campina Grande, 07.08.2007

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