quarta-feira, 14 de outubro de 2015


REFLEXÃO ACERCA DE LEITURA E LEITORES

Maria Divanira de Lima Arcoverde
Universidade Estadual da Paraíba - UEPB

Refletir sobre leitura e leitores nos faz pensar em um leque de ações que envolvem este tema. Neste sentido, é notório que já faz parte do senso comum, que compete à escola formar leitores, concebendo-se a instituição escolar como principal agência de letramento. Além disso, espera-se que ao sair da escola os alunos tenham adquirido, não só a competência leitora, mas também, o hábito de ler, o que não acontece, geralmente, levando-se em consideração que as pesquisas têm demonstrado um trabalho de leitura associado a questões ideológicas. O aluno tem que provar que sabe ler e passar pelo julgamento do professor que o submete a práticas avaliativas. Como afirma Nunes (1998, p.27),

“no discurso escolar ocorre a simulação de discursos outros que o constituem, ou seja, o discurso escolar apresenta um seu exterior específico [...] que distingue três instâncias determinantes de leitura: a do jurídico, a do econômico e a do político.”

Esse complexo ideológico constitui um espaço contraditório, onde estão imbricadas práticas escolares e outras práticas vigentes em nossa sociedade, de modo que as condições de leitura estão vinculadas quase sempre ao livro didático, cujo leitor é moldado pela instituição.
Dessa forma, é interessante que vejamos a leitura e suas funções sociais como prática fundamental para o exercício da cidadania. Já não podemos conceber que a “cada ano, avaliações de diferentes portes deem conta de que no Brasil a escola venha falhando na sua função de formar leitores”. (ANTUNES, 2009, p.185).
Revendo a nossa caminhada como professora de Língua Portuguesa e analisando as causas desse problema, percebemos que o livro ainda não é o centro das atenções, nem tampouco considerado devidamente como um bem cultural. Diante dessa realidade, é inconcebível cruzar os braços frente à essa evidência, bem como atribuir apenas à escola a exclusividade de desenvolver essa prática leitora. Podemos, conforme orienta Perrenoud (2000, p. 15), desenvolver “a aptidão dos sujeitos para ligar os saberes que adquiriram ao longo da vida às situações da experiência, a fim de que pelo recurso a esses saberes, vivenciar essas experiências de forma gratificante e eficaz”. Assim, saberes e competências funcionarão numa relação clara de inclusão. No dizer de Perrenoud, a competência supõe a articulação do saber já acumulado com as condições específicas das situações enfrentadas. Vale a pena, então, questionar que competências a leitura desenvolve? Encontramos em Antunes, (2009, p. 193) a resposta ideal. ”A leitura permite o acesso ao imenso acervo cultural constituído ao longo da história dos povos e possibilita, assim, a ampliação de novos repertórios de informação”.
Para esta autora, a leitura nos proporciona a descoberta de novas ideias, novas concepções, perspectivas e diferentes informações acerca do mundo, das pessoas, da história dos homens. A leitura expressa o respeito ao princípio democrático de que todos têm direito à informação e acesso aos bens culturais já produzidos. A leitura confere, ainda, o poder de enxergar e perceber o que nos circunda, a fim de que, como cidadãos, assumamos nossos diferentes papéis na construção de uma sociedade que respeite a lógica do bem coletivo e dos valores humanos.
Somos sabedores de que ler é partilhar conhecimentos, e como tal, é interagir com o outro e afirmar-se como sujeito histórico/social. Seduzir alguém ao encantamento da leitura como atividade social, de forma que se instaure a interação entre o escritor e o leitor, que estão aparentemente distantes, mas que querem se comunicar é preciso! É necessário, ainda, abrir caminhos para a prática social da leitura fora dos bancos escolares, na certeza de que isto significa o exercício da partilha do poder. Como afirma Chico Buarque: “A vida não gosta de esperar! Amanhã ninguém sabe...
Nesta perspectiva, é correto reconhecer que não se pode negar a preocupação dos órgãos públicos, em desenvolver uma política que amplie a função social da escola como principal agência de letramento, em programas oficiais do MEC, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa (1996) e outros.
Inegável, também, as variadas propostas de incentivo à leitura promovidas em todo o país. Entre programas, projetos e campanhas podem ser citados alguns. Nos anos 70, o Governo Federal implantou o projeto de financiamento de publicações de obras literárias, por intermédio do Instituto Nacional do Livro.  Uma política de co-edições que patrocinava parte do custo de produção de textos, responsabilizando-se também pela distribuição de sua cota de livros, suprindo bibliotecas públicas nos estados e municípios. Na década de 80, a Fundação Nacional do Livro, em parceria com a iniciativa privada, patrocinou projetos que consistia em ampliar o acervo de livros das escolas. No período de 1982 a 1985, com o apoio da Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil, foi desenvolvido o projeto “Ciranda de Livros”, patrocinado pela Hoeschst do Brasil, Fundação Roberto Marinho e Fundação Nacional do Livro, quando foram distribuídos livros para trinta mil escolas da rede pública de todo país. Em 1987 e 1988, o projeto “Viagem da Leitura” oportunizou a distribuição de livros de literatura para bibliotecas públicas conveniadas ao Instituto Nacional do Livro. O projeto “Sala de Leitura”, resultado da parceria com a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) e o MEC garantiu nas escolas de todo o país a distribuição de livros didáticos e de literatura. O projeto pretendia combater o modelo tradicional das bibliotecas por uma prática democrática de leitura, de forma flexível. Em 2001, foi criado o Projeto “Literatura em Minha Casa” com o objetivo de integrar os espaços educacionais e culturais, escola e família. O inovador nesse projeto foi a oportunidade que o aluno tinha de compartilhar as leituras dos livros com seus familiares. Conforme dados do MEC, este projeto foi o de maior envergadura e a maior compra de livros já realizada no Brasil. (SITE DO MEC. ACESSO em 20/05/09).
Programas como o PROLER e o PROLEITURA, implementados na década de noventa, também trabalharam com ações básicas, visando à constituição de uma sociedade leitora numa troca de experiências de leitura, através da formação de uma Rede Nacional de Leitura. Diferente dos projetos, esses programas não tinham por objetivo a distribuição de livros, mas a formação de recursos humanos e assessoria às ações regionalizadas de promoção á leitura.
Essas e outras ações têm beneficiado o Estado da Paraíba. No entanto, nunca é demais esse fazer, frente às condições sócio-históricas que caracterizam seus habitantes. A necessidade de sistematizar a história da leitura, a partir de uma perspectiva que a conceba como prática cultural, portanto, histórica, vai além da compilação e da produção de um acervo, exigindo do historiador a interpretação e a articulação desta prática às esferas das políticas públicas de leitura. (BARBOSA, 2007).
Neste contexto, situamos a pré-existência que povoa o imaginário coletivo, de que qualquer pessoa escolarizada é um sujeito-leitor, isto é, que aprendeu a ler. E isto não é verdade. Sabemos que os fatores responsáveis pelo insucesso da escola no ensino de leitura, embora existam tantos projetos e programas oficiais, é que falta na escola a eficácia de uma metodologia que preveja, não só o aprendizado do ponto de vista formal, mas também o desenvolvimento de práticas leitoras que envolvam o desejo, o gosto e a necessidade de ler. Barthes (1973), em “O prazer de texto”, compara o leitor a uma aranha que, ao mesmo tempo em que tece, segrega a substância com a qual vai tecendo a sua teia. Assim também, o leitor à medida que lê projeta sobre o texto seus conhecimentos de mundo, textual e linguístico e tece com o outro suas histórias de leitura. Na visão de Gurgel (1999, p. 209), “o amor e a leitura, porque têm em comum o prazer, requerem um exercício diário de conquista, de envolvimento, de diálogo com o outro”.
Não é redundante, afirmarmos que a leitura nos torna capazes de tecer nossa própria identidade, a partir do outro e com o outro, estabelecendo o processo de cidadania. É preciso, pois, a inserção de uma política que promova a leitura além dos muros escolares, independente do lugar em que esteja o indivíduo ou do contexto sócio-histórico-cultural em que esteja inserido. É necessário, ainda, que se propicie a esse indivíduo o direito de ler, que se forme nele o gosto de ler.
Além do mais, sabendo-se que a leitura como um dos meios que o indivíduo tem de se comunicar com o mundo, ter contatos com novas ideias e pontos de vista, que talvez sua prática jamais lhe proporcionasse, necessário se faz que projetos dessa natureza sejam postos em prática para que se tenha a formação de uma sociedade leitora.
Desta forma, qualquer ação, por incipiente que seja, pode demonstrar o compromisso de qualquer órgão, enquanto Instituição que se preocupa no que fazer, para minorar o “enigma do consumidor esfinge”, cujas fabricações se disseminam na rede da produção televisiva, urbanística e comercial que aos poucos se transforma em puro receptor. Um espelho de um ator multiforme e narcísico (CERTEAU, 1994). Para tanto, é imprescindível que se ampliem essas ações leitoras em projetos mais audaciosos, para que indo além, oportunizem “o voo dos condores no céu”. É bom esclarecer que não desejamos uma operação somente decodificadora, articulada, com base, apenas, em significantes. Desejamos apagar a imagem do livro como uma ilha sempre fora do alcance dos leitores. Pretendemos que o livro deixe de ser privilégio de alguns que o estabelecem como um segredo do qual somente eles tenham direito a “decifrá-lo”. Desejamos que o livro seja visto como um bem cultural de acesso plural.
Neste contexto, enquanto educadora, sonhamos em ver concretizadas propostas de leitura que possam pôr em prática estratégias politizáveis, sem cobranças, sem contas a pagar, sem perguntas para responder, nem julgamentos de valor. No dizer de Certeau (2004, p. 269),

ler é constituir uma cena secreta, lugar onde se entra e de onde se sai à vontade [...]. É produzir jardins que miniaturizam e congregam um mundo, [...] onde os leitores são viajantes, circulam nas terras alheias, nômades caçando por conta própria, através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens do Egito para usufruí-los.
Compreendemos que propostas nesta direção promoveriam a inserção de atividades leitoras no cotidiano das pessoas, em seus domicílios, independente do contexto social em que se insiram.  O importante é que o indivíduo possa exercer o direito de ler, aprenda a ler e adquira o gosto de ler.
Implantar políticas públicas para a formação de uma sociedade leitora é, portanto, dever de todos nós!  Como assevera Barthes, (Op. Cit. 2003. p. 9), “Esse leitor, é mister que eu o procure (que eu o drague) sem saber onde ele está. Não é a pessoa do outro que me é necessária, é o espaço: a possibilidade de uma dialética do desejo” [...].

– REFERÊNCIAS

ANTUNES, I. Língua, Texto e Ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009.

--------------- Muito Além da Gramática: Por um ensino sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.

-------------- Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: 2003.

BARBOSA, S. de F. P. História da Leitura na Paraíba: Prática e representações. Projeto de Pesquisa. João Pessoa: UFPB, 2007.

BARTHES, R. O prazer do Texto. São Paulo: Perspectiva, 1973.

CERTEAU, M. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

FREIRE, P. A importância do ato de ler. Em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1993.

GURGEL, M. C. Língua, Texto e Ensino: outra escola possível. In: VALENTE, A. Aulas de Português: Perspectivas inovadoras. Petrópolis, R J: Vozes, 1999.


sábado, 20 de dezembro de 2014


UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
SOLENIDADE DE COLAÇÃO DE GRAU 2014/02
 
Exmº Sr. Governador do Estado (ou representante)
Exmº Sr. Prefeito Municipal (ou representante)
Magº. Reitor Prof. Dr. Antônio Rangel Júnior
Pró-Reitor de Ensino de Graduação, Prof. Dr. Eli Brandão, em nome de quem, cumprimento os demais Pró – Reitores
Caros Diretores de Centro, Chefes de Departamento e Coordenadores de Curso
Caros Colegas, companheiros de caminhada
Queridos Formandos (as)
Senhores e Senhoras

Apraz-me citar como preâmbulo deste discurso o paraibano Hildeberto Barbosa Filho, que poetizou acerca da palavra, em seu livro “Quando nem morrer é remédio”: [...] “A palavra resgata paraísos/ Ponto final da oração do tédio/ É armadilha que trança o gesto/ Cálida, põe pelo avesso o universo e carrega montanhas/ É a colina ondulando no olhar/ É o olhar escavando o lado esquerdo do peito/ E o céu da boca perfumado” [...]
É pertinente, então, que seja a palavra o símbolo maior de que me valho, para externar toda a minha emoção, eivada do mais intenso reconhecimento para agradecer: Agradecer ao Deus da vida, por me premiar com este momento! Agradecer ao Magnífico Reitor Rangel Júnior e aos membros do CONSUNI/UEPB pela honraria que me concedem de compartilhar desta solenidade como Paraninfa Geral. Imperioso, pois, que retextualize aqui o início da mensagem do Poeta/Reitor, ao comunicar-me essa escolha, que segundo ele, “Mais que merecimento/ Mais que uma deferência/ Mais que homenagem, a UEPB reconhece e reverencia esta cidadã, exemplo de educadora, por sua história de vida e trabalho na nossa Universidade”, o que não posso negar, muito me lisonjeou.
Isto me reporta a cenas que me fazem reviver a comunhão que me enlaça a esta Instituição e me permite seguir as pegadas de Cecília Meireles: Os dias são feitos de pequenos desejos, vagarosas saudades e silenciosas lembranças. Na UEPB, a catedral dos meus sonhos foi erguida e se tornou realidade. “Foi nas pontas de suas tranças, onde amarrei minha ilusão”. Esta Universidade representa para mim a metáfora, cujo princípio fundante se traduz em isotopias que preenchem todo o meu ser e se inscrevem em minha alma,     impregnando-se de tal forma, que difícil seria desvencilhar-me delas! Razão por que nos irmanamos a esse sentimento de pertença, como algo que nos une irremediavelmente.
Relembro, assim, meu ingresso nesta Instituição, como professora substituta, quando ainda Universidade Regional do Nordeste. Acompanhei “paripassum” as crises e as lutas pela sua sobrevivência. Mas, felizmente, o casulo dos tempos difíceis a transformou em crisálida de nova vida. Posso, neste sentido, registrar, prazerosamente, que após ser admitida por Concurso Público, na então Universidade Estadual da Paraíba, compartilhei com companheiros de caminhada “das nuvens que no chão não pousam”, dos embates político, histórico e social que redundaram na sua ascendência e no seu crescimento vertiginoso! Após sua estadualização, veio o reconhecimento e a sua autonomia, culminando com a ampliação de Cursos e a criação de novos câmpus.
Entretanto, é importante ressaltar que por mais transversos e esguios que sejam nossos caminhos, nada acontece por acaso... O instante faz parte da condição humana! E em alguns casos, nós o fazemos acontecer! Em razão disto, é no instante em que se oculta a complexidade das dores ou a exuberância das alegrias, protegidas pela máscara do existir. E assim, se efetivam as vitórias, porque existem soldados que, incansavelmente, lutam nas batalhas! Como competidores que permanecem firmes em suas maratonas, estes não abandonam as pistas, jamais, por maiores que sejam os obstáculos!
Neste contexto, foram muitos os atores sociais da UEPB que não fizeram de suas janelas um único foco, cujo olhar limitado os impossibilitaria de ver outras paisagens! Buscaram outras janelas para contemplar novos horizontes.   Miraram-se no espelho de José Américo de Almeida e em seu reflexo ponderaram que “Ver bem não é ver tudo; é ver o que os outros não veem”.  Transformaram pedras em montanhas, construíram dos escombros de suas dificuldades castelos e fizeram dos desertos secos desafios! Eis, pois, nossa Universidade, digna do Pódio, uma vez que criou, com suas incertezas, uma escada para alcançá-lo!

Acredito que nada nem ninguém poderão detê-la! A UEPB, como nos ensina Clarice Lispector, “não terá medo nem de chuvas tempestivas, nem de grandes ventanias”, tendo em vista que “o vazio tem o valor e a semelhança do pleno”. Certamente, os fundamentos sobre os quais foram construídos os pilares que lhe dão sustentáculo jamais ruirão, porque calcados em ideais pétreos e firmes, são bases sólidas que se tornam indestrutíveis! Tenhamos a convicção do escritor Robson Pinheiro: “As águas que descem em um rio caudaloso podem causar certos estragos, ao longo do percurso ou ao redor das margens. Contudo, se forem devidamente canalizadas ou reprezadas, servirão de impulso ao progresso na geração de energia e trabalho”.

Estou convicta de que os protagonistas da gestão atual são timoneiros que não deixarão águas turbulentas ensejarem outras margens. Construirão pontes que ultrapassarão as fronteiras do tempo! A UEPB, hoje, é uma pluralidade qualitativa, em que o múltiplo se diversifica. É a “invenção do possível”. Como numa ciranda, estaremos todos de mãos dadas para dançar e cantar a melodia que for entoada! Desta forma, firmados na premissa do escritor Prof. Francisco Pereira, em sua obra “A palavra na construção do mundo”, acreditamos que “Nenhuma corrente é mais forte do que seu elo mais fraco”.

Dirijo-me agora aos formandos/as! Revivo o meu momento como graduada e toda a minha ascendência acadêmica. E é balizada em minha experiência, que ouso dizer-lhes, a exemplo de Guimarães Rosa: “Viver é um rasgar-se e remendar-se”. É despedaçar sonhos e cobiças. É essa separação do que somos para abraçar aquilo que poderemos ser.
Vocês concluem uma etapa de vida! Talvez muitos de vocês ou seus familiares abdicaram de algo para a construção desse castelo, alicerçado pela persistência e pelo compromisso! Cada um aqui com sua história! Como enfatiza Augusto Cury, “ninguém é digno da sabedoria se não usou suas lágrimas para cultivá-la”.
Aproveitem esse saber acumulado ao longo desses anos, sejam quais forem as suas áreas do conhecimento. Mas, sigam também os aconselhamentos de Clarice Lispector: “Mergulhem no que vocês não conhecem. Não se preocupem em entender; viver ultrapassa qualquer entendimento”. Por isto, lhes digo: Sonhem o impossível, pois se vocês alimentarem grandes sonhos, seus desafios produzirão oportunidades e seus medos produzirão coragem. Ignorem os espinhos, porque sobre eles as rosas desabrocham com perfume que inebria nossa alma! É preciso voar e voar alto dentro de si mesmo! Voem alto, portanto, como a catar estrelas no céu! Se tempestades vierem, toda esperança será âncora! Finquem-na no bojo do firmamento como quem planta sementes no chão! Mas, ao mesmo tempo, aprendam a sair de si mesmos e sigam em direção ao próximo. Sejam humildes, abnegados e se estruturem em suas vivências, da mesma forma em que sejam fortes, corajosos, audaciosos e ousados na consolidação de seus sonhos, tornando-se profissionais competentes! 

Permitam-me, ainda, confessar-lhes que a minha força, eu a construí nos embates da vida, decorrente das lutas, das pedras no caminho e do esforço empreendido na subida das ladeiras... Foram muitas, às vezes, que nuvens negras me apareceram como restos de noite... O vento para mim tornou-se forte, arfante, quase cansado em seu ímpeto! Mas, sabiamente, como nada é para sempre, “o próprio vento”, no dizer de José Américo, “para tornar-se amável, mudou de sexo. É brisa, o que há de mais carinhoso na natureza livre, desimpedida e viajada, a afagar- [me] como uma pluma macia e delicada”. Eis-me, então, aqui!
Saibam, também, que na vida, o que possuímos de verdade é aquilo que doamos! Aprendam a se doar livres como as andorinhas no céu! Sem grilhões, sem cordas, sem amarras, sem muletas!

Enfim, façam de suas vidas uma escalada sempre crescente, confiantes de que Deus está em cada esquina, em cada situação, em cada gesto. Procurem, pois, decifrar a mensagem que Ele envia para cada um de nós.
Parabéns a todos! Sejam felizes e continuem tocando a melodia do amor na harpa do coração. Obrigada e um beijo maternal para cada um.

Maria Divanira de Lima Arcoverde
Campina Grande, 16 de dezembro de 2014

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Querer-Dizer de Jorge Amado no viés popular

Jorge, mais do que amado, se insurge como "o ícone da literatura baiana"  que ultrapassa os limites dos interstícios discursivos. Considerado um escritor atemporal, suas obras atravessam o tempo e rompem barreiras geográficas, assim como seu personagens são transformados em parte indissociável da vida brasileira.  Amante de expressões populares, o discurso de Jorge Amado torna-se inconfundível em suas obras literárias.  Em seus propósitos de incorporação da linguagem popular, não dispensa as frases feitas,os provérbios, as gírias e os palavrões. O coloquialismo em Jorge Amado é uma marca da opção militante do escritor. Se a literatura para ele era vida, o seu querer-dizer também significava vida.  Nesse processo de elaboração, Jorge Amado, para lembrar uma reflexão glissantina, "traça um risoma com o mundo, irrigando a escrita  na delicada busca de deciframento do real, tanto em campo estético, quanto nos campos  histórico, político e ideológico".
Neste sentido, a dinamicidade da criação linguajeira de Amado, situada no universo da cultura, se dimensiona como um grande diálogo , cuja teia discursiva se desenvolve sob a base da materialidade linguística de discursos já-ditos.  Assim, volvemos o nosso olhar para recortes de retomadas de enunciados populares de curta extensão, introjetados como redes de significação na obra "A morte e a morte de Quincas Berro D'Água".
Os enunciados de curta extensão  são expressões populares que se inscrevem no tecido literário, enquadradas como provérbios, aforismos, máximas  e outras, dado o número reduzido de léxicos que mobilizam a sua organização. Na perspectiva discursiva, possuem características próprias e são reconhecidas como um "já-dito", facilmente identificáveis.
Coletamos algumas expressões de nosso domínio cotidiano, tais como: "amarrados como boi na canga, osso duro de roer, vendo com o rabo do olho,prendê-lo em sete palmos de terras, chegou a sua hora derradeira, bateu as botas", entre tantas outras.
Estes enunciados constituem um gênero textual distinto, por fazerem parte do "Thesaurus" Cultural de um determinado grupo social.  A linguagem popular assume, então, no texto literário,  um "entre-lugar" e faz com que Amado situe-se neste "lugar aparentemente vazio", cumprindo um ritual que instaura o interdiscurso  no campo literário, onde teríamos todos os dizeres "já-ditos", em uma estratificação de enunciados que representam o dizível.
Jorge Amado ancorou o seu querer-dizer, exercendo a potencialidade discursiva  de todas as camadas sociais, em uso plural e dialógico. O querer-dizer de Amado, marcado por um discurso de fácil reconhecimento, é  vivificado pelo pragmatismo de seu uso no horizonte social, o que faz jus ao reconhecimento de suas obras estarem incluídas numa rede social que o destaca no cenário cultural e enunciativo do Brasil e do exterior.

PS- Este texto é resumo  de um artigo apresentado no Colóquio Nacional : Jorge Internacionalmente Amado, promovido pela ABRAEC e PRPGL, em nov/2012.



domingo, 2 de dezembro de 2012

Acerca  dos Cursos de Letras

"Curso de Letras? Pra quê?" Este é o título  que Marcos Bagno usa para encetar uma "conversa" sobre a "situação catastrófica" em que se encontram os Cursos de Letras, seja em  Universidades Públicas ou privadas. Segundo ele, é "doloroso" para os apaixonados pelos estudos da linguagem, admitir esta realidade! Para início da conversa, ele diz que o próprio nome "Letras"  é obsoleto e denota ideias elitistas, anacrônicas, além de ideais aristocráticos e sexistas, que não se coadunam com os dias de hoje, tendo em vista o apego a paradigmas vigentes no Século XIX que assim  funcionava: "Literatura oral? Nem pensar! Literatura alternativa, marginal, transgressora? Deus nos livre! Literatura de autor vivo?  De jeito nenhum!  Literatura escrita por mulher? Jamais!" Desta forma, ele vai elencando os modelos desta época, incluindo os "fantasmas" que diziam respeito às línguas... "O estudo das  línguas mortas, dissecado em frases soltas" assemelhavam-se "com a autópsia de um cadáver" que para ele, "não  é mera coincidência!"
Com o advento da Linguística, no início do Século XX, imaginou-se uma grande revolução, que poderia abalar essa "arquitetura aristocrática".  No entanto, lamenta o autor, no Brasil, esses estudos foram incorporados de forma desordenada. Resultava, apenas, no acréscimo de disciplinas!  Por esta razão, o nome "Letras" continua intacto, havendo uma exceção para o Instituto de Estudos da   Linguagem  (IEL) da UNICAMP.
Chama a atenção, ainda, o autor para os "puxadinhos" que são promovidos para adequar as novas concepções do século, transformando-se os Cursos em "verdadeiros Frankensteins acadêmicos". O resultado são turmas e mais turmas formando-se em Letras, com limitações  em conhecimentos necessários, como  "gramaticalização, pragmática, discurso,  letramento, gênero textual,enunciação, sociocognitivismo,  sociointeracionismo, sociologia  da linguagem, políticas linguísticas,crioulização,diglossia, teorias da leitura, relações fala/escrita,  áreas de pesquisa  e de ação fundamentais para que se tenha uma visão coerente do que é uma língua  e do que significa ensinar língua". Tantos outros problemas são citados pelo autor, que têm a ver com a própria estrutura dos Cursos , e outros "mais amplos e mais trágicos", como os dados do INAF  (Indicador Nacional de Alfabetismo Nacional), divulgando que 75% dos brasileiros entre  15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Estes dados foram publicados em 2005 e para nossa tristeza, na edição de 2012, os dados permanecem inalterados, apresentado o mesmo percentual  (75%). Este quadro absolutamente precário de alfabetismo  é muito preocupante!  O autor nos incita a refletir sobre as questões do desprestígio da carreira docente! Direciona ara a preocupação sobre o desestímulo pela procura do magistério!  Chama também para o foco do círculo vicioso da má formação de profissionais que saem "despreparados" para enfrentar a sala de aula. Diz ele, que a redução de pessoas bem formadas é cada vez menor para esta profissão!   Segundo o autor, os Cursos de formação de professores são procurados cada vez mais por pessoas "originárias de grupos sociais em que as práticas letradas são restritas. E assim, forma-se a chamada bola de neve...  "Vamos nos iludindo e iludindo os estudantes".    Mas, o problema não está em recebermos pessoas  de camadas mais desfavorecidas, alerta Bagno.  Isto deve ser comemorado! O problema é não darmos a estas pessoas as condições favoráveis para superarem suas limitações.
O autor conclui  a conversa, relatando resultado de uma pesquisa sobre a escrita de professores de Língua Portuguesa do Distrito Federal. Pasmem! Coletou centenas de textos escritos  e o resultado constata "mais de 80% de textos incompreensíveis, sem os requisitos mínimos de coesão e coerência, repletos de erros ortográficos , de pontuação, de concordância ..." Se os docentes escrevem assim, o que aprenderão os nossos alunos?
É preciso, pois, que se invista em política de valorização do magistério! Necessário que saiamos do "pacto da mediocridade" em que o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende. Urge uma mudança no setor educacional! Formemos uma ciranda para que todos se deem as mãos, no compromisso de cada um cumprir o seu papel social, acendendo a luz que poderá tirar o Brasil dessa escuridão!

domingo, 15 de julho de 2012

 De  Volta àquele Bairro


Já dizia o grande José Américo: "Ninguém se perde na volta..."Mas, voltar nos remete a enredos que envolvem, muitas vezes, emoções... Voltar evoca lembranças, das quais, muitas delas, deixaram marcas e machucam feridas que nunca foram cicatrizadas... Por isto, as emoções são mais fortes e os sentimentos se aguçam numa cadeia progressiva que, somente os que experimentam estes momentos, poderão dizer da intensidade como eles são vividos...
Foi assim, naquela manhã, ao   voltar à Escola Rivanildo Arcoverde no Bairro Presidente Médici, onde morei vinte anos e partilhei efetivamente de ações que contribuíram para o seu desenvolvimento. Ali, estava eu, com minha filha Rossana, de Volta àquele Bairro, para a solenidade de Reinauguração da reforma daquele educandário que homenageia meu filho, perpetuando seu nome no frontispício daquele prédio. Mais uma solenidade, que de relance me faz recuar ao tempo e lembrar de acontecimentos passados, se por um lado tristes, por outro, a alegria de constatar o quanto meu filho era querido  e amado pelas suas qualidades, pelo seus relacionamentos, pelo seu engajamento na vida sócio-cultural e pelas suas próprias idiossincrasias...  Belo, por dentro e por fora, o tempo curto que lhe foi concedido aqui na terra, não impediu de que vivesse intensamente, à maneira de seu tempo, e cativasse a amizade de jovens de sua faixa etária e de pessoas de mais idade, com as quais ele conviveu e conquistou destas a sua estima.  Relembrar suas "façanhas", seu riso contagiante, sua meiguice, enfim, tudo de bom que o caracterizava me conforta e me deu e dão ânimo para continuar...
Agradeço a Deus por tudo! A vida é um somatório de realizações. Um barco no qual navegamos, nem sempre em águas brandas... Mas, "navegar é preciso"! Precisamos remar, muitas vezes, contra a correnteza de águas turbulentas que atravessam o rio caudaloso da vida. Devemos  conservar a Fé em Deus, que está ali, a postos, nos guiando e determinando as margens onde devemos aportar. 
Agradeço  sensibilizada a todos que contribuíram na imortalidade do nome de Rivanildo Arcoverde, nosso inesquecível e amado NILDO, como o chamávamos carinhosamente, em uma Unidade Escolar da Rede Pública de Campina Grande. Não poderia ser em lugar mais propício, tendo em vista que ele está venerado e homenageado por estudantes, crianças que transbordam alegria sem pensar no amanhã, que rogo a Deus, tenham um futuro brilhante.