domingo, 2 de dezembro de 2012

Acerca  dos Cursos de Letras

"Curso de Letras? Pra quê?" Este é o título  que Marcos Bagno usa para encetar uma "conversa" sobre a "situação catastrófica" em que se encontram os Cursos de Letras, seja em  Universidades Públicas ou privadas. Segundo ele, é "doloroso" para os apaixonados pelos estudos da linguagem, admitir esta realidade! Para início da conversa, ele diz que o próprio nome "Letras"  é obsoleto e denota ideias elitistas, anacrônicas, além de ideais aristocráticos e sexistas, que não se coadunam com os dias de hoje, tendo em vista o apego a paradigmas vigentes no Século XIX que assim  funcionava: "Literatura oral? Nem pensar! Literatura alternativa, marginal, transgressora? Deus nos livre! Literatura de autor vivo?  De jeito nenhum!  Literatura escrita por mulher? Jamais!" Desta forma, ele vai elencando os modelos desta época, incluindo os "fantasmas" que diziam respeito às línguas... "O estudo das  línguas mortas, dissecado em frases soltas" assemelhavam-se "com a autópsia de um cadáver" que para ele, "não  é mera coincidência!"
Com o advento da Linguística, no início do Século XX, imaginou-se uma grande revolução, que poderia abalar essa "arquitetura aristocrática".  No entanto, lamenta o autor, no Brasil, esses estudos foram incorporados de forma desordenada. Resultava, apenas, no acréscimo de disciplinas!  Por esta razão, o nome "Letras" continua intacto, havendo uma exceção para o Instituto de Estudos da   Linguagem  (IEL) da UNICAMP.
Chama a atenção, ainda, o autor para os "puxadinhos" que são promovidos para adequar as novas concepções do século, transformando-se os Cursos em "verdadeiros Frankensteins acadêmicos". O resultado são turmas e mais turmas formando-se em Letras, com limitações  em conhecimentos necessários, como  "gramaticalização, pragmática, discurso,  letramento, gênero textual,enunciação, sociocognitivismo,  sociointeracionismo, sociologia  da linguagem, políticas linguísticas,crioulização,diglossia, teorias da leitura, relações fala/escrita,  áreas de pesquisa  e de ação fundamentais para que se tenha uma visão coerente do que é uma língua  e do que significa ensinar língua". Tantos outros problemas são citados pelo autor, que têm a ver com a própria estrutura dos Cursos , e outros "mais amplos e mais trágicos", como os dados do INAF  (Indicador Nacional de Alfabetismo Nacional), divulgando que 75% dos brasileiros entre  15 e 64 anos são analfabetos funcionais. Estes dados foram publicados em 2005 e para nossa tristeza, na edição de 2012, os dados permanecem inalterados, apresentado o mesmo percentual  (75%). Este quadro absolutamente precário de alfabetismo  é muito preocupante!  O autor nos incita a refletir sobre as questões do desprestígio da carreira docente! Direciona ara a preocupação sobre o desestímulo pela procura do magistério!  Chama também para o foco do círculo vicioso da má formação de profissionais que saem "despreparados" para enfrentar a sala de aula. Diz ele, que a redução de pessoas bem formadas é cada vez menor para esta profissão!   Segundo o autor, os Cursos de formação de professores são procurados cada vez mais por pessoas "originárias de grupos sociais em que as práticas letradas são restritas. E assim, forma-se a chamada bola de neve...  "Vamos nos iludindo e iludindo os estudantes".    Mas, o problema não está em recebermos pessoas  de camadas mais desfavorecidas, alerta Bagno.  Isto deve ser comemorado! O problema é não darmos a estas pessoas as condições favoráveis para superarem suas limitações.
O autor conclui  a conversa, relatando resultado de uma pesquisa sobre a escrita de professores de Língua Portuguesa do Distrito Federal. Pasmem! Coletou centenas de textos escritos  e o resultado constata "mais de 80% de textos incompreensíveis, sem os requisitos mínimos de coesão e coerência, repletos de erros ortográficos , de pontuação, de concordância ..." Se os docentes escrevem assim, o que aprenderão os nossos alunos?
É preciso, pois, que se invista em política de valorização do magistério! Necessário que saiamos do "pacto da mediocridade" em que o professor faz de conta que ensina e o aluno faz de conta que aprende. Urge uma mudança no setor educacional! Formemos uma ciranda para que todos se deem as mãos, no compromisso de cada um cumprir o seu papel social, acendendo a luz que poderá tirar o Brasil dessa escuridão!

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