Jorge, mais do que amado, se insurge como "o ícone da literatura baiana" que ultrapassa os limites dos interstícios discursivos. Considerado um escritor atemporal, suas obras atravessam o tempo e rompem barreiras geográficas, assim como seu personagens são transformados em parte indissociável da vida brasileira. Amante de expressões populares, o discurso de Jorge Amado torna-se inconfundível em suas obras literárias. Em seus propósitos de incorporação da linguagem popular, não dispensa as frases feitas,os provérbios, as gírias e os palavrões. O coloquialismo em Jorge Amado é uma marca da opção militante do escritor. Se a literatura para ele era vida, o seu querer-dizer também significava vida. Nesse processo de elaboração, Jorge Amado, para lembrar uma reflexão glissantina, "traça um risoma com o mundo, irrigando a escrita na delicada busca de deciframento do real, tanto em campo estético, quanto nos campos histórico, político e ideológico".
Neste sentido, a dinamicidade da criação linguajeira de Amado, situada no universo da cultura, se dimensiona como um grande diálogo , cuja teia discursiva se desenvolve sob a base da materialidade linguística de discursos já-ditos. Assim, volvemos o nosso olhar para recortes de retomadas de enunciados populares de curta extensão, introjetados como redes de significação na obra "A morte e a morte de Quincas Berro D'Água".
Os enunciados de curta extensão são expressões populares que se inscrevem no tecido literário, enquadradas como provérbios, aforismos, máximas e outras, dado o número reduzido de léxicos que mobilizam a sua organização. Na perspectiva discursiva, possuem características próprias e são reconhecidas como um "já-dito", facilmente identificáveis.
Coletamos algumas expressões de nosso domínio cotidiano, tais como: "amarrados como boi na canga, osso duro de roer, vendo com o rabo do olho,prendê-lo em sete palmos de terras, chegou a sua hora derradeira, bateu as botas", entre tantas outras.
Estes enunciados constituem um gênero textual distinto, por fazerem parte do "Thesaurus" Cultural de um determinado grupo social. A linguagem popular assume, então, no texto literário, um "entre-lugar" e faz com que Amado situe-se neste "lugar aparentemente vazio", cumprindo um ritual que instaura o interdiscurso no campo literário, onde teríamos todos os dizeres "já-ditos", em uma estratificação de enunciados que representam o dizível.
Jorge Amado ancorou o seu querer-dizer, exercendo a potencialidade discursiva de todas as camadas sociais, em uso plural e dialógico. O querer-dizer de Amado, marcado por um discurso de fácil reconhecimento, é vivificado pelo pragmatismo de seu uso no horizonte social, o que faz jus ao reconhecimento de suas obras estarem incluídas numa rede social que o destaca no cenário cultural e enunciativo do Brasil e do exterior.
PS- Este texto é resumo de um artigo apresentado no Colóquio Nacional : Jorge Internacionalmente Amado, promovido pela ABRAEC e PRPGL, em nov/2012.