Ao ler o livro " A Constituição da Casa-Grande e da Senzala" de Paulo Lopo Saraiva ( UNIPÊ, 2008), chamou-me a atenção , particularmente, o destaque que o autor dá às contribuições do negro na nossa formação social e cultural. Em seu dizer, todo brasileiro tem marcas muito fortes da influência africana. Vai mais longe, ainda, quando afirma que "A presença da mulher, tanto índia quanto negra, é a base do nosso ordenamento jurídico". Para ele, a mulher negra ou índia são estabilizadoras das nossas relações sociais, imprimindo sempre uma hermenêutica humanística, solidária e afetiva, à solução dos conflitos. Nesse contexto, ele inclui, também, a mulher branca fazendo parte dessa "elaboração principiológica".
Porém, é no sub- título, "A oferenda dos Escravos e Escravas", que o paraibano de Serra Branca dá ênfase a esse contributo dos advindos da África, pelo que transmitiam na afetividade, na nostalgia, prudência, na sublimação, na paciência, e na conciliação. "Mãe de leite, contadora de histórias, companheira da Sinhá e da Sinhá-moça, a mulher negra moldou caracteres, formulou normas de vida e criou o primeiro recurso no processo brasileiro: o recurso de Alcova". Ressalta o autor, que no encontro do amor físico, a negra requeria ao seu senhor, que não permitisse mais o flagelo do filho dela. E sempre o recurso era provido.
Constatamos, assim, que a fatalidade da escravidão não retirou dos negros a consciência humana e social. Eles legaram à formação histórica brasileira o que há de mais honesto, justo e solidário na nossa sociedade, nas palavras desse autor.
Outra grande contribuição dos nossos antepassados negros, confirmada por esse autor, foi no campo jurídico. Algumas práticas jurídicas, como o "contrato tácito" que é em outras palavras, a formação da vontade, sem o ajuste escrito ou "sancionário", são evidenciadas. Em outros tempos, a palavra dada, o fio do bigode funcionavam... "Era a palavra que valia", diz Paulo Saraiva. Em seus testemunhos de pesquisador, "esta herança é negra". Foram os negros que construiram essa verdade! E aqui, não posso deixar de reverenciar o meu saudoso pai, que exercia essa prática e a repassava para todos os filhos, que herdamos dele uma sólida formação de caráter, em sintonia com os ensinamentos da Mãe professora, não menos saudosa, e também retilínea em suas ações.
Por estas razões, neste breve texto, há lugar para um repensar sobre o preconceito. Essa face preconceituosa em muitos de nós, nos desumaniza... É inexplicável e, graças a Deus, hoje, ilegal. É preciso, pois, repensar algumas atitudes preconceituosas, não só em relação aos negros, mas também, a outros segmentos que fazem parte da sociedade. Aprendamos com os negros, "a sublime lição de paciência, de fé, de crença no futuro" e de respeito ao outro, às suas crenças, às suas escolhas, às suas convicções, tudo enfim.
Concluo com a citação de Gilberto Freire :
"Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo (...) a influência direta ou vaga e remota do africano.
Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra."
sábado, 3 de outubro de 2009
Sobre o preconceito
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Das entrelinhas que li...
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2 comentários:
Oi Diva...
Realmente é abominável o preconceito que muitos ainda alimentam em relação ao Negro em nosso país.
Belíssimo texto...valioso tema para reflexão!
bjos
Olá Silvana
Aqui está aprova maior das grandes vantagens da Internet! Não há distância que nos separe. Gostei do seu comentário e da sintonia que nos une, enquanto educadoras. Vou ver seu blog ainda hoje. Invejo a melodia sonora te sua convivência, longe doe rumores da poluição de todas as espécies. Parabéns por desfrutar dessa riqueza.
Abraço nordestino e paraibano.
Diivanira Arcoverde
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