Retrato do poeta quando jovem
José Saramago
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Onde brancas ondas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta de uma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de seda inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
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Que beleza!!! Faço minhas, as palavras do poeta...
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