Gratifica-me muito saber que os estudos e pesquisas atuais estão priorizando as questões de memória, biografias, histórias de vida, relatos, depoimentos etc. Cultuar a memória de alguém é reconhecer os seus feitos e a sua colaboração à sociedade onde está ou esteve inserido. No setor educacional, afirma Romanowski em "Formação e profissionalização docente" (2007) que "a memória pode conter as transações passadas com a instituição escolar, pois, ao longo de sua vida, o sujeito constrói o seu saber ativamente, num processo que se faz por avanços e recuos construindo relações específicas com o saber e o conhecimento que acabam por se encontrar no cerne da identidade pessoal."
Infelizmente, alguns personagens da história da Educação brasileira são conhecidos apenas pelo nome ou por poucas leituras, muitas vezes, reflexo das leituras de outras pessoas. Nesse sentido, chamou-me a atenção o artigo que li de José Pacheco (Revista Educação, abril, 2010), intitulado "A segunda morte de Anísio". O autor revela que foi ao sertão baiano, à procura do que resta do insigne brasileiro Anísio Teixeira, principalmente nas Escolas de Caetité. Ao visitar a Secretaria de Educação, pergunta "qual o legado de Anísio, que se faz presente nas práticas escolares?" A resposta é "um embaraçado silêncio."
Embora tenha sido acolhido na casa que foi de Anísio, ter visto livros e objetos que foram usados e tocados "por aquele gênio" e ter-se detido diante de uma fotografia onde o educador estava cercado de crianças, o autor constata que nas escolas os projetos servem de "ornamentos" com citações do mestre, mas não são cultivados nas salas de aula. Percebe-se, então que na formação, os professores adquiriram vagos contributos de ilutres pedagogos estrangeiros...
Para minha perplexidade, o autor afirma que procurou na cidade uma lápide ou um busto que evocasse Anísio, mas não encontrou. A única estátua de Caetité é de alguém que está vivo e "cujos méritos" o autor desconhece. Continua a sua narrativa de forma muito explícita e seus relatos são de causar tristeza... Em seu dizer, "mistério e silêncio encobriram as circunstâncias da morte de Anísio. Consta que foi encontrado em posição fetal, entre as molas de um fosso de elevador, sem vestígios de com elas ter colidido, numa presumível queda..." Mas, ressalta o autor que "estávamos em 1971 e questionar esses tenebrosos tempos ainda é tabu (...). E a luz que Anísio lançou sobre a educação do Brasil também se extinguiu com ele". Pacheco conclui, lamentando que o tempo tenha se aliado à incúria dos homens para apagá-lo da memória dos educadores brasileiros. Para ele, "memória não é feita de inócuas homenagens, mas no fazer jus à sua vida de incansável lutador por uma educação que não aquela que, decorridos quase quarenta anos sobre a sua morte, infelizmente, ainda temos."
Que estas considerações sirvam de reflexão para nós educadores, principalmente, os que militam em cursos de Formação de Professores. Vamos estudar e pesquisar mais sobre a história da educação brasileira e, particularmente, sobre os educadores que contribuiram e colaboram com o desenvolvimento da educação de nosso estado, a nossa pequena e heróica Paraíba. Não deixemos que o processo de apagamento da memória seja cultivado. Preservemos a nossa história.
domingo, 2 de maio de 2010
O apagamento da memória
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Das entrelinhas que li...
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2 comentários:
Gostei.
Educadora de verdade faz assim... Clama por reflexão! Faz reflexão!
Vale um pedqueno desafio, então...
Qual educador paraibano poderíamos recordar nessa linda página?
Beijos
Sua filhota de admiração imorreudoura. Amo vc...
Primeiramente que alegria ter te reencontrado! Adorei este teu texto postado aqui no teu blog, parabéns, sempre escrevendo bem e sensivelmente!Sempre está presente nossa harmônica e fértil convivência nos idos do Terceiro Núcleo de Cultura! Lembrei-me e tenho guardado aquele belo comentário que fizeste do meu livro "Barco Sem Vela"no qual pontuaste "tu não estás só na multidão"...
Um abraço oceânico pela alegria do reencontro
da amiga e admiradora
m.s. cardoso xavier
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