Segundo Vera Teixeira de Aguiar, a leitura é uma atividade compreensiva através da qual chega-se às idéias do autor, à descoberta dos pormenores, às inferências, à comparação com as idéias de outros autores e com as nossas próprias idéias, às conclusões.
De acordo com experiências comprovadas, nossos alunos já não saem das escolas com essa preparação, isto é, procurando fazer da leitura fonte de crescimento e desenvolvimento do senso crítico. Em boa hora, o MEC por meio da FAE, cria o projeto "Sala de leitura" para as escolas de 1º grau, verificando que só por meio da democratização da leitura, poderemos transformar a escola, reclamando dos educadores uma nova maneira de formar nos alunos à fruição crítica dos textos. E pensar a democratização da leitura é, sobretudo, pensar a democratização política e as transformações das suas estruturas sociais e econômicas.
Sabemos das dificuldades para uma mudança imediata das condições de realização da leitura escolar, principalmente, "em função (ou distorção forçada) dos seus objetivos primeiros e das agruras por que passa a educação brasileira". Mesmo assim, abraçamos corajosamente o desafio da implantação do projeto, cujas características precípuas são:
- Informalidade de ambiente: não sendo exigida uma sala específica, mas ambientees de descontração, tais como: galerias, pátios e a própria sala de aula;
- Informalidade de tratamento técnico do acervo: a acomodação dos livros devem permitir a livre manipulação pelo aluno , incentivando-se o empréstimo domiciliar e a freqüência de utilização;
- Espontaneidade de leitura: o aluno deve se sentir livre para a busca da leitura independente de controle e ligação com tarefas escolares, sendo indispensável, entretanto, o acompanhamento da leitura pelo professor, para que o aluno possa explorar todo o seu potencial crítico e criativo.
Sob a nossa jurisdição estão 36 municípios e foram contemplados com salas de leitura 80 escolas. Cada escola recebeu um acervo de 70 títulos para a 2ª fase e 103 títulos para a 1ª fase, perfazendo um total de um mil e poucos volumes, já que para cada título vem mais de um volume.
Nosso objetivo é criar condições que propiciem no aluno o prazer pela leitura, considerando a fonte de informação e prazer. A esse objetivo somamos o desejo de formular um novo conceito de leitura, pois como diz Paulo Freire "a leitura do mundo precede a leitura da palavra". Ler o mundo é assumir-se como sujeito da história. É ter consciência dos processos que interferem na sua existência como ser social e político.
É inegável que a crise de leitura existe e tanto na escola como fora dela essa crise toma proporções inestimáveis. Então, qual seria o papel da sala de leitura na escola na superação da crise da leitura, sabendo-se que a escola até então, tem interpretado esta tarefa de modo mecânico e estático? Claro que não seria a repetição da tradicional biblioteca. Sendo assim, teríamos bibliotecas. Sendo assim, teríamos apenas uma permuta de nomes sem a finalidade educativa a que se propõe: formar o leitor.
A nosso ver, não se aprende a ler de forma compulsória na escola. É algo que faz parte dos padrões culturais de uma comunidade. Destarte, cabe à escola por meio da sala de leitura incentivar seus alunos para uma participação efetiva; para que se processe a motivação entendida como um despertar de uma orientação seletiva do comportamento: numa ação nunca dissociada dos movimentos que situam o cidadão como sujeito da história (leitor do mundo). Converter o livro e os demais instrumentos de documentação cultural em objetos familiares às gerações atuais, impulsionando-as para seu uso livre e inventivo. Este é um ponto de partida para gerar os leitores de amanhã.
Acreditamos na garra do verdadeiro educador que não deixará escapar esta oportunidade, fazendo desse projeto um instrumento de educação permanente e de reflexão social; o fio condutor para a consecução de uma sociedade transformadora.
Texto publicado no Diário da Borborema. Campina Grande, outubro de 1986.
Nenhum comentário:
Postar um comentário